Especialistas da Universidade Federal Fluminense (UFF) analisaram e fizeram projeções sobre a recuperação do Rio Grande do Sul, após a tragédia climática que assolou o estado.
De acordo com boletim da Defesa Civil, as fortes chuvas que atingem o estado afetaram mais de 1,4 milhão de pessoas. Os professores usaram, ainda, tecnologias usadas em Niterói como exemplos a serem seguidos.
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Com o agravamento da situação climática do planeta, é esperado que o território gaúcho sofra com ocorrências de tempestades ainda mais frequentes. No ano passado, um ciclone extratropical já havia causado estragos em toda a região.
Apesar do monitoramento e das previsões meteorológicas, a tragédia evidenciou a falta de políticas públicas que preparem as cidades para eventos climáticos extremos.
O tempo nesses casos é um fator determinante para reduzir os danos e salvar vidas. Por isso, é essencial o monitoramento constante e a eficiência no envio de alertas e informações aos cidadãos.
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Em Niterói, por exemplo, a UFF e a Defesa Civil do município criaram um sistema que usa a Inteligência Artificial (IA) para prever temporais. O meteorologista e professor do Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental da UFF (TER/UFF), Márcio Cataldi, explicou como funciona.
“Usamos a IA para aprimorar as previsões pluviométricas. A partir do modelo WRF – sistema de previsão de tempo numérico -, as redes neurais (Inteligência Artificial) utilizam o histórico de chuvas e de previsões para aprender com os erros numéricos e melhorar, principalmente, a previsão de precipitação”, explicou.
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O docente também destaca que esse modelo é aplicado em alguns centros europeus e pode ajudar na prevenção de danos causados por desastres climáticos em outras regiões do país.
“É possível replicar sim o que foi feito neste sistema para outras regiões, visando melhorar as previsões de chuva. No entanto, o aprimoramento da previsão é ineficaz, se os governantes não forem capazes de tomar decisões com base nela. Temos de observar também a forma como esses dados e informações são utilizados”.
Preparação para catástrofes
O Governo Federal reconheceu o estado de calamidade pública no RS. Dos 497 municípios gaúchos, 414 foram afetados pelas chuvas e estão com serviços de água, energia, internet e telefonia prejudicados. O cenário da infraestrutura também é devastador com a interdição de estradas, pontes, aeroportos e outros equipamentos.
Para reconstruir o estado, segundo o Governador Eduardo Leite, vai ser preciso um “Plano Marshall”, indicando a excepcionalidade da situação e a necessidade de recursos extraordinários do orçamento.
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O reconhecimento do estado de calamidade pública facilita o repasse e a utilização de verbas públicas para as ações de recuperação necessárias. Segundo o Governo Federal, já foi liberado mais de R$1 bilhão em emendas parlamentares para atender o RS.
Segundo a professora do TER/UFF, Franciele Zanandrea, é de suma importância que o planejamento para recuperar o Rio Grande do Sul proponha soluções de longo prazo que promovam a sustentabilidade do projeto.
“É necessário integrar medidas de redução de riscos de desastres no planejamento, para minimizar a vulnerabilidade a eventos extremos, principalmente em um cenário de emergência climática. Precisamos que os projetos de recuperação auxiliem na construção de comunidades resilientes aos desastres, com o fortalecimento da defesa civil e planos de contingência que definam ações e responsáveis pelo gerenciamento dos riscos de desastres”, avalia.
Diretrizes
Nesse sentido, Zanandrea, que é doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aponta diretrizes que devem ser contempladas no plano de recuperação do estado.
“As cidades precisam prezar pelo gerenciamento adequado das águas e dos resíduos, além de optar pelo uso de soluções baseadas na natureza com o intuito de minimizar os impactos negativos do crescimento urbano. Por isso é importante o investimento em infraestruturas verdes, transporte público e ciclovias, reduzindo a dependência de veículos motorizados e aumentando a resiliência às interrupções causadas por eventos climáticos extremos”.