Empresa fundada há 3 meses recebe 850 mil da campanha de Carlos Jordy a prefeito de Niterói

Jorual Tecnologia e Comunicação, empresa fundada há 3 meses e 19 dias recebe 850 mil em recursos do fundo eleitoral da campanha de Carlos Jordy a prefeito de Niterói | Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Texto e apuração: André Freitas

Uma empresa fundada em 12 de junho de 2024 é a segunda maior fornecedora de serviços da campanha do deputado federal Carlos Jordy à Prefeitura de Niterói, com R$ 850 mil Reais em serviços prestados até então. Trata-se da Jorual Tecnologia e Comunicação, cuja atividade econômica principal é a de agência de notícias.

Conforme informações da Receita Federal, a empresa ainda presta serviços de promoção de vendas, marketing direto, serviços combinados de escritório e apoio administrativo, reparação e manutenção de computadores e de equipamentos periféricos. Além disso, outras atividades de prestação de serviços de informação não especificadas. Tem como sócio administrador Cleonice Loureiro Alves.

A sede do negócio fica em um condomínio residencial no bairro Serra Grande, na Região Oceânica de Niterói. Porém, essa se trata da parte menos importante, desde que o negócio realmente funcione lá – o que vamos apurar.

A princípio, isso se trataria de um problema exclusivo de Carlos Jordy. Todavia, ele realiza os repasses de dinheiro cujos recursos provém do famoso “fundo eleitoral” para custear as despesas. Daí, a escolha discricionária do candidato esbarra nos princípios que regem a administração pública. Sobretudo, o da legalidade e moralidade. Até porque, no caso em questão, estamos falando sobre gastos com dinheiro público.

Gastos

De acordo com informações disponibilizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, a campanha de Carlos Jordy para a Prefeitura de Niterói já arrecadou R$ 9 milhões apenas em recursos do fundo partidário. O valor supera, inclusive, o limite de teto de gastos estabelecido para o primeiro turno, de R$ 8.006.882,59. Até o fechamento desta reportagem, às 9h10 desta terça-feira (01/10), as despesas da campanha de Carlos Jordy somavam R$ R$ 8.033.776,58, com um total de R$ 7.803.776,58 em contratações e R$ 7.009.794,49 em pagamentos.

O fato de se tratar de uma empresa recente, em tese, não geraria nenhum impeditivo para a prestação de serviços. Contudo, nos parece muito estranho a destinação de mais de 10% do limite de gastos de uma campanha eleitoral concentrados numa empresa que não possui experiência alguma por lógica cronológica.

Caso semelhante na Câmara dos Deputados

Porém, esta não se trata da primeira vez que Carlos Jordy contrata uma empresa recém-criada para suas ações de marketing. Em 2019, quando assumiu seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados, Jordy foi o primeiro cliente de uma empresa fundada dezessete dias antes de sua posse para divulgação de atividades de seu mandato parlamentar. Os recursos provinham da Cota para Exercício de Atividade Parlamentar (CEAP).

Na ocasião, a empresa escolhida por Carlos Jordy foi a A3 Serviços de Publicidade e Comunicação LTDA. Somente em 2019, a Câmara Federal reembolsou Carlos Jordy em R$ 105 mil Reais gastos com essa empresa até abril de 2020.

No caso da A3, entretanto, outros deputados federais do Rio de Janeiro também contrataram os serviços da empresa recém-fundada zelar pela divulgação de seus mandatos. Todos eles apoiaram o presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2018: Wladimir Garotinho (atualmente prefeito de Campos e candidato à reeleição), Otoni de Paula, Márcio Labre, Major Fabiana, Gurgel e Daniela do Waguinho.

No caso da empresa A3, chama atenção o fato de os “serviços prestados” corresponderem a publicações, a princípio, espontâneas de veículos de imprensa. Inclusive, no corpo da nota, os serviços discriminados versam sobre menções aos parlamentares em reportagens. Algo natural, por si só, em veículos que realizam a cobertura do cotidiano político nacional.