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Dia Internacional do Cachorro: do afeto às cobranças e denúncias

 

Dia Internacional do Cachorro: do afeto às cobranças e denúncias

Cookie, ainda filhote, quando doado a André Freitas porque estava dando prejuízo à dona do canil; ele pagou apenas as vacinas e gastos que o cão havia dado até então | ₢Angélica Carvalho/Folha do Leste (foto privada – proibida a reprodução)

O Dia Internacional do Cachorro, celebrado neste 26 de agosto, não representa apenas mais uma data de homenagem no calendário. Acima de tudo, no traz um lembrete de que os cães foram os primeiros amigos da humanidade, domesticados há dezenas de milhares de anos. Atualmente, seguem como os mais fiéis companheiros dos humanos.

Em suma, eles não se importam com riqueza, status ou aparência. Para os cães, basta estar ao lado de seu tutor. Mais do que fiéis, tratam-se de animais sencientes, pois sentem dor, prazer, medo, alegria e solidão.

 

O início da relação de amizade da história entre cães e humanos

Cookie, cão do nosso editor André Freitas: amizade e companheirismo mútuo | Acerco Pessoal

Cookie, com André Freitas: amizade e companheirismo mútuo | Acervo Pessoal

A domesticação dos cães ocorreu há, pelo menos, 27 mil anos, tornando-os pioneiros na convivência com humanos. Desde então, aprenderam a interpretar gestos, reconhecer expressões e se tornaram parceiros de vida. Essa relação ultrapassou a utilidade porque os cães compartilham afetos, compreendem emoções e oferecem companhia incondicional.

Além das raças, o sofrimento uterino das cadelas

Na cultura urbana, muitas famílias ainda buscam cães de raça específica. Mas em cada abrigo superlotado há dezenas de cães sem raça definida esperando a mesma chance. Afinal, cada cão sente, sofre, ama e merece respeito. A indiferença à raça deve começar a se tornar uma postura ética diante de uma realidade de abandono em massa.

 


Brasil têm milhões de cães; muitos abandonados e invisíveis nas ruas

De acordo com o IBGE, o Brasil tem mais de 55 milhões de cães vivendo em lares. Mas há também milhões espalhados pelas ruas, vítimas de abandono. Abrigos e ONGs estão superlotados, sem condições de novos resgates, enquanto o mercado de filhotes continua a explorar cadelas como fábricas.

Cachorro resgatado pela nossa ONG Arca Animal

Cachorro resgatado pela nossa ONG Arca Animal

Esse contraste é um contrassenso: vidas descartadas de um lado, vidas comercializadas do outro. Conforme dados do Instituto Pet Brasil, quase 5 milhões de cães e gatos estão em condições de vulnerabilidade no país.

Cachorro pitbull arremessado num valão em Bangu em maio do ano passado | Repdodução

Cachorro pitbull arremessado num valão em Bangu em maio do ano passado, com as patas amarradas | Repdodução

Entre os invisíveis, estão os cães que vivem com pessoas em situação de rua. Muitos tutores recusam abrigo porque não podem entrar com seus animais. Preferem enfrentar frio e fome, mas não abandonar o único ser que lhes devolve afeto. O vínculo, nesse caso, é ainda mais profundo: é sobrevivência compartilhada.

 

Ausência de políticas públicas

O Brasil carece de um plano nacional de proteção animal. A castração é insuficiente, a fiscalização contra maus-tratos é falha, assim como a necessidade de campanhas públicas de adoção são pontuais. Sem políticas estruturais, a superlotação de abrigos e o crescimento do abandono se perpetuam.

O reconhecimento científico da senciência animal deveria ser a base para criar leis e práticas que protejam também a saúde emocional dos cães.


Animais sencientes: o que isso significa

Define-se como animais sencientes aqueles capazes de sentir e experienciar o mundo por meio de sensações e emoções. Sentem dor, prazer, medo, mas também alegria e também vínculos afetivos. Nesse sentido, inserem-se os cães, cachorros, doguinhos, cãozinhos, cachorrinhos…

Cães que resgatamos e estão em nosso abrigo Arca Animal | Patrícia Nunes/Acervo Pessoal

Cães que resgatamos e estão em nosso abrigo Arca Animal | Patrícia Nunes/Acervo Pessoa

O conceito da senciência, escrito pelo cientista estadunidense Philip Low, da Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, teve repercussão internacional com proclamação pública da Declaração de Cambridge sobre Consciência Animal, durante um evento na Universidade de Cambridge. Ainda mais pela presença do maior cientista ate então vivo desta nossa geração, o físico Stephen Hawking.

Apoiado na teoria de Stephen Hawking, “de que o córtex cerebral não produz consciência”, o texto do cientista Philip Low revolucionou o mundo. Principalmente porque levou a humanidade a repensar suas relações com os animais. Até porque o assunto passou a estar diretamente relacionado à plena consciência de alguns animais.

Portanto, diante disso, nossa coluna se compromete a esclarecer vários fatos importantes sobre esse assunto em nossa próxima publicação.

Consciência animal, uma possibilidade real

A declaração teve proclamação pública no Reino Unido, 7 de julho de 2012, na “Francis Crick Memorial Conference on Consciousness in Human and non-Human Animals”. De antemão, mediante tradução do inglês para a língua portuguesa, Conferência Memorial Francis Crick sobre Consciência em Animais Humanos e Não Humanos”. O texto passou por edição de Jaak Panksepp, Diana Reiss, David Edelman, Bruno Van Swinderen, Philip Low e Christof Koch.

Em resumo, esse trabalho, disponível neste link (é só clicar aqui) nos levou a esses resultados relevantes:

“A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e  neurofisiológicos de estados de consciência juntamente como a capacidade de exibir comportamentos intencionais.

Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos”.

Assim sendo, as evidências indicaram que a natureza não contemplou somente os humanos com substratos neurológicos que geram a consciência. Além disso, os resultados revelaram que outros animais mamíferos, aves e até polvos também possuem esses substratos.

Essa constatação muda a forma como devemos enxergar os animais. Se eles experimentam emoções, não basta protegê-los contra violência física. É preciso garantir bem-estar emocional e mental, respeitando sua vida como experiência sensível. Isso significa combater abandono, isolamento, exploração comercial e qualquer prática que desconsidere sua capacidade de sentir.

 

Companheiros que curam

A senciência dos cães se manifesta também no cuidado que oferecem aos humanos. Eles participam de terapias em hospitais, auxiliam pessoas em depressão e ajudam a reduzir ansiedade e estresse. Não pedem nada em troca: apenas o direito de viver ao lado de quem amam.

Cão Teddy no aeroporto do Galeão | Agência Folha do Leste

Cão Teddy, de apoio emocional de criança autista, chega  no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para reencontrar sua tutora, após ser impedido de viajar por suas vezes pela Companhia Portuguesa TAP | Agência Folha do Leste


O verdadeiro sentido da data

O Dia Internacional do Cachorro deve ser mais que celebração. É um chamado para reconhecer que eles são sencientes, possuem emoções próprias e precisam ser respeitados como indivíduos. É uma data para cobrar políticas públicas, condenar o comércio cruel e lembrar que adotar significa salvar uma vida que sente e ama.

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