Coluna do André FreitasFutebol

Ancelotti prova que problema da seleção brasileira não se restringe ao comando técnico

Defesa melhora com Ancelotti, mas seleção segue sem criatividade

Defesa da seleção brasileira melhora com Ancelotti, mas seleção segue sem criatividade | Raphael Ribeiro

Apesar da melhora da defesa sob comando de Ancelotti, a seleção brasileira segue sem criatividade e eficiência do meio para a frente. O empate sem gols com o Equador em Guaiaquil, na noite desta quinta-feira (5), mostrou que as cinco estrelas estampadas no manto do Brasil, somente representam nossa a história de conquistas até 2002. Assim sendo, ficou evidente porque estamos há 24 anos sem vencer uma Copa do Mundo.

Afinal, a única finalidade alcançada pela seleção brasileira neste jogo diz respeito ao setor defensivo, que terminou a partida sem levar gols. De resto, vimos o mesmo de sempre. Um time sem criatividade, pouco inspirado, respeitando demais as estrelas que a camisa do Equador não tem — e não terá tão cedo.

Além disso, apesar de agora estar sob o melhor comando técnico do mundo, a seleção brasileira jogou como antes. Tanto que continuou faltando aos nossos jogadores do meio para a frente um necessário espírito de liderança. Segue faltando alguém que chame o jogo pra si, tal qual o cara com o poder de resolver. Por exemplo, como fez Romário, em 1994.

Em entrevista coletiva, Ancelotti comenta melhora na defesa da seleção brasileira, mas reconhece  deficiência do time com a bola – Vídeo abaixo | Raphael Ribeiro/CBF

Sem fome

Isso ficou evidente na primeira chegada do Brasil logo no primeiro tempo. Gerson (pena que não o de 1970), recebeu bola mal cortada pela zaga adversária na entrada da área pela meia-esquerda, em condições de finalizar. Entretanto, preferiu servir a Vini Jr, que invadia pela diagonal. Em outras palavras, livrou-se da bola e da responsabilidade de tentar finalizar. E como quem diz assim: “resolve você”, fez o passe.

Vídeo: Gerson deixa de chutar a gol

Essa situação consiste apenas em um exemplo de muitos que eu poderia dar, mas que tornariam esse artigo mais longo do que ele já está.

Postura ideal de jogador de seleção

Não tenho nenhum receio em dizer que, considerando a escalação de hoje, o melhor jogador em campo foi o zagueiro Alex, do Lille. Esse, sem dúvida, indicado por Ancelotti. Ele mostrou em campo uma vontade que há muito tempo não vejo em jogadores atuando pela seleção.

No olhar de Alex, reluzia o brilho que falta a muitos outros atletas que recebem a oportunidade de vestir a camisa do seu país. Escrevo isso sem exagero, pois o jogador provou ter mentalidade, segurança defensiva, personalidade e qualidade técnica. Mesmo com tudo isso, ainda demonstrou o tamanho de sua vontade de se fazer merecedor de uma vaga na seleção. Lembrou-me o primeiro jogo que narrei com o Raphinha em campo.

Defesa tem boa postura

Todavia, ao menos a parte defensiva ficou organizada com o retorno de Casemiro, juntamente com a boa atuação dos laterais. Tanto Vanderson pela direita, quanto Alex Sandro, pela esquerda, dificultaram as investidas pelos lados do campo, neutralizando as subidas dos laterais Ordóñez e Estupiñán.

Casemiro volta com disposição, raça e mentalidade, embora tenha faltado qualidade no passe | Raphael Ribeiro

Se por um lado Casemiro voltou a dar equilíbrio ao sistema defensivo, faltou a ele maior qualidade no passe entre linhas. Não se trata mais daquele jogador que chega na frente, mas com fôlego de voltar. Se ainda souber fazer isso, com alguém lhe cobrindo, tem lugar no grupo.

No gol, o mesmo Alisson hesitante de sempre, que precisou realizar em dois tempos a defesa de um chute inofensivo do meio da rua. Era o primeiro dos raros arremates do Equador, ainda na etapa inicial: já deu.

Futebol triste de se ver

Tive as piores sensações diante da postura em campo de Estêvão, que jogou se preservando o tempo todo. A meu ver, fugiu do jogo, para escapar de apanhar, pois a cada bola no pé, passava pela sua cabeça o mundial de Clubes e sua ida para o Chelsea.

Não aproveitou a chance que teve de sair jogando como titular. Deu lugar a Gabriel Martinelli, que apesar da boa fase que vive, não teria vaga em nenhuma seleção mundial das nossas cinco estrelas estampadas na camisa. Nem na seleção de 1990.

Estêvão começa como titular, mas joga com freio de mão puxado | Raphael Ribeiro

Do meio pra frente, onde sempre nos destacamos ao longo da história, seguimos sem criação. Até porque, no futebol, isso depende do criador. A escalação do meio-campo, na teoria, permitia que ora Gerson, ora Bruno Guimarães se aproximassem do ataque, com o Brasil tendo a bola. Entretanto, a bola girou o todo tempo na defesa.

Defesa da seleção brasileira melhora com Ancelotti enquanto Vinícios Junior esteve bem marcado o jogo todo | Raphael Ribeiro/CBF

Vinícios Junior esteve bem marcado o jogo todo | Raphael Ribeiro/CBF

Houve excesso de passes horizontais e para trás, exigindo que os atacantes baixassem a pressão alta para tentar vir buscar jogo no meio de campo. Isso deu uma grande vantagem aos zagueiros, e marcadores individuais de Vini Jr pelo Equador.

Defesa melhora com Ancelotti, mas seleção segue sem criatividade

Pombo recupera a 9 da seleção, mas não faz o seu principal papel: gol | Raphael Ribeiro/CBF

Richarlisson, mal demais em campo, não preocupou a marcação do Equador, permitindo que eles dobrassem a marcação em cima de Vini Jr, sobretudo pela esquerda. Apesar de seu esforço, o “melhor do mundo” do Real Madrid tinha sempre os volantes Caicedo e Alan Franco na sua cola como marcadores fixos. Mesmo assim, dependendo da região do campo, ainda havia o marcador daquela zona impedindo o craque brasileiro de jogar.

Defesa melhora com Ancelotti, mas seleção segue sem criatividade

Vini Jr tenta passar pela marcação dura armada pelo Equador contra ele | Raphael

Tri e penta por 24 anos

Abri esse conteúdo me referindo às cinco estrelas, tal qual a 2002 — ano do pentacampeonato — porque, de lá pra cá, apenas a seleção de 2006 tinha, em seu plantel, jogadores de excepcional qualidade do 1 ao 11. Vivemos jejum semelhante de títulos entre o tricampeonato de 1970 e o tetra de 1994.

Nesse interstício, tivemos grandes seleções em 1974, 1978, 1982, 1986 e até a contestada seleção de 1990. Porém, o mesmo não acontece no período temporal entre 2002 e 2026.

Defesa melhora com Ancelotti, mas seleção segue sem criatividade

Bruno Guimarães teve mais uma atuação apagada | Raphael Ribeiro

Desde o anúncio (porco) da contratação atribuída ao Carlo Ancelotti, a lista de atletas convocados já indicava que, inicialmente, a única mudança aconteceria na escalação dos titulares. Por mais que o Ancelotti acredite no potencial dos jogadores, enfim ele viu o que todos nós estamos vendo há vários ciclos. Tem muita gente de fora que quer estar na seleção, enquanto muitos querem se beneficiar de estar nela.

Ancelotti não vai deixar barato

Mesmo assim, eu acredito que a real alteração de postura em campo ainda virá. Pois Ancelotti — internamente — vai reagir a quem lhe induziu a acreditar na convocação desses jogadores incapazes de dar à seleção brasileira aquilo que ela precisa com urgência: vontade de fazer o melhor, acima de tudo.

Na coletiva, o novo técnico elogiou a parte defensiva do time, sobretudo o fato de não ter deixado o adversário criar oportunidades. Em resumo, Ancelotti disse que foi um bom jogo. Sobre o ataque, elogiou a marcação alta do time, mas reconheceu que o time não soube jogar com a bola. Disse que esperava um jogo mais fluído. Por fim, disse que o empate foi um bom resultado.

Vídeo: Ancelotti faz balanço do jogo

Diante dos convocados e, hoje, do resultado, o torcedor morrerá dizendo que a lista de convocados “cheira mal”. Nada contra o Taffarel, de quem sou fã, mas quem tem que convocar goleiro é o técnico. Nomes como Richarlisson e Danilo, por exemplo, tem baixo nível de justificativa para convocação.

Levaram pra ele uma lista feita num papel cansado de embalar “peixe podre”. Mas qualquer conversa que vier a ter com jogadores do tempo dele  —e que estão fora do esquema dessa turma que sobreviveu ao “funeral” do Ednaldo —dirá quem ele está deixando de observar no Brasil.

Eu mesmo digo: Allan Patrick (Internacional), Yuri Alberto (Corinthians), Igor Jesus (Botafogo), Marlon Freitas (Botafogo), Gregore (Botafogo), Willian (Cruzeiro), Kaio Jorge (Cruzeiro), Jhonatan (Rio Ave – Portugal), Lucas Veríssimo (Al-Duhail/CAT), Helinho (Toluca-Mex), Giorgio Constantini (River Plate/ARG), Léo Jardim (Vasco), Pedro (Flamengo), Igor Jesus (Botafogo), Maurício (Palmeiras), Cauly (Bahia).

E você: deixe nos comentários quem merece ficar e quem deve entrar?

Coluna Tecnologia e Inovação, no portal de notícias Folha do Leste, com Enzo Carvalho

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