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Cerca de 30% dos projetos urgentes do Congresso estão parados

Cerca de 30% dos projetos urgentes do Congresso estão parados

Foto: Antônio Cruz – Agência Brasil

Quase um terço dos projetos de lei com urgência aprovada pelo Congresso Nacional entre fevereiro e setembro de 2023 está parado, sem votação. Os textos “furaram” a fila no Senado e na Câmara, mas estão nas gavetas. Especialistas acreditam que a falta de consenso e o uso político das propostas são os motivos para o “esquecimento” das matérias consideradas urgentes.

O regime de urgência é utilizado para acelerar a tramitação e votação dos projetos. Uma vez aprovado o requerimento de celeridade, a proposta legislativa não precisa obedecer aos prazos e formalidades regimentais. No entanto, a decisão sobre o que será votado nos plenários cabe aos presidentes da Câmara e do Senado.

Graziella Testa, doutora em Ciência Política, destaca a centralidade da elaboração das pautas de votação nas mãos dos presidentes das Casas como uma das razões para o grande número de projetos parados. Para ela, os líderes partidários deveriam ter maior participação na definição da pauta do plenário.

Na Câmara, há 34 propostas consideradas urgentes aguardando discussão pelos parlamentares, de um total de 102 entre fevereiro e setembro. No Senado, duas das 17 propostas seguem em espera. Há dois textos na fila da Câmara há sete meses, sem previsão para serem colocados em pauta. Um deles propõe a implantação de um botão de pedido de socorro em celulares, enquanto o outro estabelece que pessoas condenadas por crimes não violentos devem prestar serviços em abrigos de proteção a animais.

Segundo especialistas, algumas urgências são aprovadas em momentos em que os assuntos estão sendo amplamente discutidos pela sociedade civil. No entanto, por não serem votados, esses projetos perdem a relevância e não são discutidos.

Um exemplo é o projeto de lei do deputado Rodrigo Gambale, que propôs a criação de uma semana cultural para os estudantes diante do aumento da violência nas escolas. O texto teve o requerimento de urgência aprovado em agosto, mas ainda não foi colocado em discussão.

O Projeto de Lei (PL) das Fake News, um dos projetos paralisados na Câmara dos Deputados, teve a urgência aprovada por 238 deputados em 26 de abril. No entanto, a pressão exercida por grandes empresas de tecnologia, como Google, TikTok e Meta (controladora do Facebook), fez com que o presidente da Câmara, Arthur Lira, retirasse o projeto da pauta de votação apenas quatro dias depois de ter sua tramitação acelerada. Até o momento, não há previsão para que a proposta, que estabelece regras para plataformas digitais, seja votada.
No Senado, há dois projetos do senador Dr. Hiran Gonçalves e da deputada Maria do Rosário aguardando análise. O projeto de Hiran busca reverter a medida provisória de Lula que extinguiu a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em seu primeiro dia de mandato. Após a pressão recebida pelo governo, foram publicados três decretos que recriaram o órgão, com a promessa de entregá-lo ao Centrão. Embora o Executivo tenha tomado essa medida, a proposta legislativa de Hiran ainda pode ser votada.

De acordo com o cientista político Tiago Valenciano, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o bloqueio desses projetos mostra como funciona o Congresso. Para ele, propostas como a de Hiran podem ser utilizadas como moeda de troca em negociações envolvendo emendas parlamentares ou cargos.

“Os regimes de urgência são um recurso utilizado pelo Legislativo para agilizar o complexo, porém necessário, processo legislativo. Eles podem ser utilizados para levantar temas polêmicos e pressionar o governo ou serem usados em negociações com ou contra o governo”, afirmou Valenciano.
Todos os 34 projetos considerados urgentes e paralisados no Congresso foram propostos por parlamentares. As propostas elaboradas pelo Executivo, que receberam urgência aprovada, já foram apreciadas pelas Casas Legislativas. O último exemplo disso foi o projeto de lei complementar 136/2023, que prevê compensação para os Estados por perdas no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis. Esse projeto teve a urgência aprovada em 4 de outubro e foi votado no mesmo dia.

Segundo Joyce Luz, pesquisadora do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), que acompanha o funcionamento do Congresso, o Legislativo priorizou a votação de projetos propostos pelo governo, como a reforma tributária e o arcabouço fiscal. No entanto, ela ressalta que, ao longo do tempo, outras pautas que não são do Executivo poderão ser apreciadas.

“É notório que o Legislativo deu prioridade aos projetos do Executivo, deixando de lado esses outros textos. Estamos no início de um governo e, com o passar do tempo, algumas pautas de iniciativa parlamentar poderão ser analisadas”, afirmou a pesquisadora.
A Câmara dos Deputados afirmou, em nota, que os 34 projetos de lei com urgência aprovada “não estão parados”, mas dependem de um acordo prévio entre os líderes partidários para serem votados.
“Antes de serem pautados, são debatidos entre as lideranças e os demais deputados para obter um consenso mínimo para a votação”, declarou a Câmara.
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