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Caso João Pedro: policiais acusados de matar menino no Complexo do Salgueiro vão a Júri Popular

Júri popular vai julgar policiais da Core pela morte de João Pedro, aos 14 anos

Júri popular vai julgar policiais da Core pela morte de João Pedro, aos 14 anos | Rio de Paz/ ₢Rafael Brito 

Quatro anos após o assassinato do adolescente João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, dentro de casa, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, a Justiça finalmente ouviu o clamor popular. Nesta terça-feira (24), a 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) decidiu, por unanimidade, levar a júri popular os três policiais civis acusados pela morte do menino.

Rio de Janeiro (RJ) João Pedro, então com 14 anos. Ele foi morto com um tiro de fuzil, durante operação conjunta das polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo no dia 18 de maio de 2020. Foto: Rafaela Santos/Arquivo pessoal

João Pedro, então com 14 anos. Rafaela Santos/Arquivo pessoal

A decisão anula a controversa absolvição dos agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) — Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister — proferida em 2023 pela 4ª Vara Criminal de São Gonçalo. À época, o juiz ignorou laudos técnicos e testemunhos que apontavam graves irregularidades na atuação policial. O Ministério Público e a Defensoria Pública recorreram, e agora a sentença será revista sob os olhos da sociedade.

70 tiros e nenhuma explicação

João Pedro morreu por conta de um tiro de fuzil que o atingiu nas costas enquanto ele brincava com amigos na casa do tio. O imóvel ficou crivado de mais de 70 disparos. Nenhum policial se feriu, assim como não houve comprovação de qualquer confronto. O laudo da própria Polícia Civil descartou a hipótese de legítima defesa. Mesmo assim, os acusados saíram livres — até agora.

Para o Ministério Público, os policiais dispararam tiros em direção a uma casa com vidros espelhados, sem visibilidade sobre quem estava dentro. Já a Defensoria sustenta que a decisão inicial violou normas da Corte Interamericana de Direitos Humanos, bem como do STF. Elas exigem, sobretudo, investigações imparciais quando agentes do Estado estão envolvidos em crimes.


Júri popular: a justiça pelas mãos do povo

Com a nova decisão, os três agentes agora responderão por homicídio doloso, quando há intenção ou assunção de risco. Caberá a um júri popular — formado por cidadãos comuns —  julgá-los, como manda a Constituição para crimes contra a vida.

Polícia atirou 70 vezes: júri popular vai decidir caso do menino João Pedro

Polícia atirou 70 vezes: júri popular vai decidir caso do menino João Pedro | Tomaz Silva/ABR

Segundo o defensor público Pedro Carriello, o julgamento popular é “uma vitória da verdade”. Para ele, a existência de provas técnicas, periciais e testemunhais invalida qualquer tese de legítima defesa.

“É uma decisão de suma importância. Fortalece a luta pelos direitos humanos e reforça a memória do caso João Pedro”, declarou.


“Não vai trazer meu filho de volta, mas é um alívio”, diz mãe

Rafaela Matos, mãe de João Pedro, clama por justiça e fala sobre que a família carrega há cinco anos

Rafaela Matos, mãe de João Pedro, clama por justiça e fala sobre que a família carrega há cinco anos | Rio de Paz/ ₢Rafael Brito

Na porta do TJRJ, onde familiares e ativistas fizeram mais uma manifestação por justiça, a mãe do adolescente, Rafaela Mattos, desabafou entre lágrimas:

“Ontem, o João faria 20 anos. E hoje é uma vitória. Tivemos que esperar um ano por essa resposta. Ainda vai demorar para o júri acontecer, mas esse alívio não tem preço”, disse.

Em entrevista à imprensa, Rafaela também também falou:

Acusados de matar João Pedro enfrentarão julgamento por homicídio doloso após justiça anular julgamento do caso | Rio de Paz/ ₢Rafael Brito

Acusados de matar João Pedro enfrentarão julgamento por homicídio doloso após justiça anular julgamento do caso | Rio de Paz/ ₢Rafael Brito

“Mesmo tendo júri popular, nós não sabemos quanto tempo mais nós vamos esperar para que essa justiça seja feita. Porque a gente vê a impunidade todos os dias. São cinco anos dessa batalha. E é muito difícil você estar numa luta, e você saber que as pessoas que assassinaram seu filho estão por aí soltas. trabalhando levando suas filhas normalmente. E nós familiares temos que transformar a nossa dor em luta”

Pedidos negados

Apesar da vitória parcial, a Justiça negou pedidos importantes da família: aumento da indenização, fornecimento de atendimento psicológico, medicamentos, um pedido formal de desculpas do Estado e a criação de um memorial em homenagem ao menino.


Quando será o julgamento?

Ainda não há data definida para o júri. Mas, com a decisão desta terça, o caso volta ao centro do debate sobre violência de Estado, racismo estrutural e impunidade no Brasil.

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