ColunistasDe Brasília, Vanessa Ferreira

Brasília: Raio-X do lixo humano

Brasília: Raio-X do lixo humano

Brasília além da imagem: aterro sanitário quase na capacidade máxima e descarte irregular: um raio-x do lixo no DF | Crédito: Arquivo/Agência Brasil

 

 

 

Há mais de seis anos, a capital federal conta com o espaço do Aterro Sanitário de Brasília, localizado entre Ceilândia e Samambaia, para receber os resíduos não recicláveis da população do DF. No entanto, estudos do SLU (Serviço de Limpeza Urbana) apontam que o espaço deve chegar à capacidade máxima de 8,13 milhões de toneladas de rejeitos em 2027, apenas dez anos após ser inaugurado, quando a previsão inicial era de chegar a esse patamar em 2030.

O engenheiro ambiental Ramon Baptista da Cruz entende que o aterro representa uma evolução para o DF, junto com o trabalho realizado por outras frentes.

 

“Está se iniciando em Brasília o desenvolvimento de atividades para se ter o melhor reaproveitamento do resíduo, que vai além da reciclagem, por exemplo para a produção de combustíveis derivados de resíduos e produção de energia através de resíduos”, comenta Baptista, que é responsável técnico pelo aterro Ouro Verde, um espaço que auxilia na gestão nesse sentido, garantindo a disposição correta dos resíduos sólidos urbanos que não puderam ser reciclados, de modo que os descartes não causem danos à saúde pública ou ao meio ambiente.

Brasília: Raio-X do lixo humano

Ramon Baptista da Cruz | Divulgação

 

Por outro lado, dados do SLU apontam que os gastos do Governo do Distrito Federal com a retirada de entulhos e lixo em descarte irregular em Brasília aumentaram mais de 50% entre 2021 e 2022. Os valores subiram da marca de R$ 28,2 milhões para R$ 42,5 milhões anuais, sendo que o montante de lixo retirado caiu nos últimos dois anos: foram 612 toneladas em 2021, contra 600 toneladas no ano passado.

Brasília: Raio-X do lixo humano

Aterro Sanitário de Brasília. Local de descarte de resíduos não recicláveis deve chegar ao limite três anos antes do previsto. Enquanto isso, o governo tem gastado mais com coleta de lixo em área irregular | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

 

 

 

 

Soluções

Segundo o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), é preciso trabalhar em conjunto e, para reduzir o volume de rejeitos enviados ao aterro, é fundamental que a população participe da coleta seletiva, separando os materiais recicláveis dos orgânicos. A separação adequada dos resíduos contribui para a preservação ambiental e também para a geração de renda dos catadores que trabalham nas cooperativas contratadas.

Para o engenheiro ambiental, a gestão sustentável dos resíduos ainda é uma meta a ser alcançada no DF, mas é preciso ter mais campanhas de conscientização.

“Os resíduos recicláveis são 30% de tudo o que produzimos, mas apenas de 3 a 4% são reciclados, de fato. Por isso, uma campanha com empresários, órgãos públicos e, principalmente, nas escolas para que, lá na origem, o resíduo seja separado e chegue no destino final com condições de ser reciclado”, sugere Ramon.

Papel dos grandes geradores de resíduos

Um papel importante nesse cenário é desempenhado pelos grandes geradores de resíduos, principalmente empresas.

No Distrito Federal, qualquer pessoa física ou jurídica que produza mais de 120 litros de lixo por dia é obrigada por lei a gerenciar os resíduos sólidos que produz, sob pena de multa. Eles devem cuidar do acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final adequada aos resíduos sólidos.

De acordo com a Lei Distrital Nº 5.610/2016, o grande gerador deve desenvolver um Plano de Gestão de Resíduos (PGRS) com todos os processos da empresa e contratar uma empresa especializada e licenciada para fazer a coleta dos resíduos e encaminha-los para o destino final adequado, seja ele reciclagem, reaproveitamento, tratamento ou Aterro Sanitário.

Para o engenheiro ambiental, a aplicação da Lei Distrital Nº 5.610/2016 de forma mais eficaz poderia diminuir a sobrecarga do aterro do Distrito Federal.

“A aplicação dessa lei de forma plena poderia trazer um alívio ao Aterro Sanitário de Brasília porque diminuiria os resíduos que hoje são levados para lá, porque as empresas podem contratar o serviço de gerenciamento, tratamento e destinação final dos resíduos”, explica Baptista.

Os grandes geradores se tratam de pessoas físicas ou jurídicas que produzem mais de 120 litros de resíduos por dia. Por exemplo, em estabelecimentos comerciais, públicos, de prestação de serviços, terminais rodoviários e aeroportuários, cuja natureza ou composição seja semelhante às dos resíduos domiciliares. Para se ter uma ideia, a referida quantidade de resíduos equivale a um saco grande de 100 litros, somado a quatro sacolinhas pequenas de cinco litros.

 

Aterros particulares podem ajudar na solução

O Aterro Sanitário Ouro Verde faz a coleta de resíduos dos grandes geradores, entre outras atividades. E trabalha, sobretudo, pela disposição correta dos resíduos sólidos urbanos que não puderam ser reciclados. Acima de tudo, de modo que os descartes não causem danos à saúde pública ou ao meio ambiente. O serviço ocorre com um processo totalmente automatizado para coleta e destinação dos resíduos. Os serviços dessa natureza podem ajudar a aliviar a sobrecarga de resíduos no Aterro Sanitário de Brasília. Como resultado, garantir que ele tenha a vida útil prevista inicialmente.

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Aterro Sanitário Ouro Verde | Divulgação

Com as condições ideais, além de garantir um índice maior de reciclagem, torna-se possível otimizar a geração de resíduos sólidos. Isso, por meio de análises do conteúdo gerado. No Aterro Ouro Verde, por exemplo, o material encaminhado pelos grandes geradores passa por um estudo.

Especialistas que trabalham no aterro fazem uma pesquisa do lixo de cada empresa a fim de identificar as características do material. Dessa forma,  apontam soluções para que a empresa produza menos lixo e, consequentemente, polua menos o meio ambiente. E, ainda, economize recursos financeiros e humanos.

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