Terminou a Copa do Mundo feminina 2023. Como de hábito, “a melhor de todos os tempos”. Cerca de dois milhões de ingressos vendidos, transmissão para mais de 150 países (com dois bilhões de telespectadores), premiações recorde, uma campeã inédita… Mas, e o Brasil? Decepção, total e absoluta. Como dizem que das derrotas tiramos aprendizados – e sem jamais ter torcido contra -, é hora de avaliar, rapidamente, o que aconteceu e tomar providências.
Nunca uma seleção feminina teve a preparação que o grupo que participou do Mundial da Austrália e Nova Zelândia recebeu. Não faltaram recursos, nem apoio. Até o discurso de gênero foi atendido, com uma comissão técnica onde se valorizou a presença feminina. A começar pela treinadora, a sueca Pia Sundhage. E é justamente a partir da treinadora que a CBF precisa agir. É hora de realizar uma avaliação criteriosa sobre o que aconteceu.
A análise, obviamente, não pode passar apenas pelo resultado. Ser eliminado na fase de grupos poderia acontecer. Aconteceu com outras equipes fortes, que tinham esperanças. Só que o fracasso do resultado veio num pacote que incluiu uma goleada na estreia contra o fraco Panamá; uma derrota diante da França onde mostramos que não estávamos preparados para o adversário; e um decepcionante empate contra a Jamaica que nos eliminou.
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Com exceção da partida contra o Panamá, quando mostramos algum futebol? Como falhamos tanto na marcação contra as francesas? Por que não fomos com mais vontade ao ataque contra as jamaicanas? E neste turbilhão de dúvidas, onde estava a treinadora que, por exemplo, não levou Cristiane para o Mundial, “liberando-a” para fazer comentários na televisão? E por que, com quatro anos de trabalho, não se dedicou a aprender o português?
Talvez neste pequeno detalhe – não aprender a língua – esteja uma boa parte da explicação. Faltou compromisso. Como exigir das comandadas aquele “algo a mais” se a comandante não demonstra esse interesse? O pior é que a CBF agora sofre pressão para a manutenção de uma mulher à frente da equipe. Nada contra, muito pelo contrário. Por que, porém, não há pressão pela competência? Temos no Corinthians um grande e vitorioso treinador.
Não custa lembrar que a seleção masculina ficou sem treinador desde a eliminação diante da Croácia. Ficou, não, continua. Fernando Diniz é interino – esquenta o lugar para o italiano Carlo Ancelloti. Foram, porém, quase sete meses nesta indefinição. Na equipe feminina, assim que foi eliminada, a treinadora deixou as jogadoras na Austrália (o voo fretado chegou dois dias depois) e voltou para a sua Suécia. Desinteresse. Para nós, ficou a frustração.
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Há mais de 30 anos João Havelange, então presidente da Fifa, afirmou que o futuro do futebol estava nas mulheres. Se o Brasil não quiser ficar mais para trás do que já está, precisa agir rápido. Manter os investimentos, tomar decisões, esquecer preferências sexuais ou de pensamento e refletir. Principalmente porque, em maio, poderemos ser escolhidos para receber o Mundial de 2027. E será ainda mais frustrante vivermos outra decepção.
E a Fúria feminina ficou com o título da Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia. A seleção espanhola derrotou a inglesa por 1 a 0, neste domingo, em Sidney, e, em sua terceira num Mundial, faturou o título. Com o triunfo, a Espanha se torna o segundo país a conquistar o primeiro lugar tanto entre os homens (África do Sul, em 2010), quanto entre as mulheres – o outro é a Alemanha. A Suécia ficou com o terceiro lugar e a Austrália, uma das anfitriãs, terminou em honroso quarto lugar.
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A conquista da Espanha poderia ser incluída entre as improbabilidades do futebol, para aqueles que analisam de forma rasa o esporte. Para começar, há pouco mais de um ano 15 jogadoras (incluindo a melhor do mundo Alexia Putellas) que compunham a equipe fizeram uma carta contra o treinador Jorge Vilda e sua comissão técnica. A Real Federação Espanhola bancou sua permanência. Daquele grupo, apenas três disputaram o Mundial que terminou com o título. Quem estava errado?
Na fase de grupos, a Espanha passou em segundo lugar, superada pelo Japão. Nos mata-mata, eliminou, pela ordem, a Suíça (5 a 1), a Holanda (2 a 1) e a Suécia (outro 2 a 1), até chegar à final contra a Inglaterra, que é, simplesmente, a atual campeã da Europa. Na decisão, a Fúria feminina demonstrou todo o pragmatismo necessário para conseguir um título. Poderia, inclusive, ter um resultado mais tranquilo não fosse o pênalti desperdiçado por Hermoso. O gol de Olga Carmona (que já fizera o gol da classificação para a final), porém, foi suficiente. (V.D.)