Bolívia 1 x 0 Brasil – Resumo da partida tem pênalti fake, altitude desumana e injustiça

Luiz Henrique tenta levar perigo à defesa boliviana, mas parou nas mãos do goleiro Lampe durante a partida em El Alto | Raphael Ribeiro/CBF
El Alto (Bolívia) – Jogar a 4.100 metros de altitude não é para qualquer um, e o Brasil sentiu isso da pior forma nesta terça-feira. A Seleção Brasileira sofreu física e taticamente, enquanto a Bolívia impôs pressão do primeiro ao último minuto. Um pênalti fake — totalmente inexistente — decidiu o confronto e, de quebra, eliminou a Venezuela das chances de repescagem para a Copa do Mundo Fifa 2026, com sede nos Estados Unidos, México e Canadá.
Primeiro tempo: Bolívia sufoca o Brasil
A Bolívia começou comandando o jogo. Nos primeiros 15 minutos, Haquín soltou bomba de fora da área, obrigando Alisson a defesa espetacular. Logo depois, Enzo Monteiro perdeu chance clara. Miguelito, jovem destaque do América-MG, conduzia o ataque, ao passo que criava chances e testando constantemente a defesa brasileira.
Aos 25 minutos, novo erro do Brasil no meio de campo: Miguelito recebeu sozinho e finalizou rasteiro, passando perto. Aos 36, chutou forte da entrada da área, mas a bola desviou em Andrey e Alisson fez outra defesa. O Brasil respondeu apenas com Richarlison, que teve chute desviado, e Luiz Henrique, que parou no goleiro Lampe.

No meio de campo, Bruno Guimarães encara a marcação boliviana; o lance gerou o pênalti que muitos consideram inventado pelo VAR | Raphael Guimarães
Aos 45, o VAR chamou o árbitro para revisar lance de Bruno Guimarães sobre Roberto. No campo, o árbitro não havia marcado nada. Todavia, mediante a intervenção do VAR, o árbitro reviu o lance no monitor e marcou pênalti.
Aos 48, Miguelito bateu firme, Alisson tocou, mas não evitou o gol. O primeiro tempo terminou com a Bolívia dominando e o Brasil sufocado, visivelmente atingido pela altitude.

Miguelito comemora o gol de pênalti que abriu o placar e garantiu a vitória histórica da Bolívia sobre o Brasil em El Alto | Comenbol
Segundo tempo: tentativas brasileiras e resistência boliviana
Na segunda etapa, o Brasil tentou reagir, mas sentia muito desgaste físico. Samuel Lino e Luiz Henrique criaram oportunidades, mas não completaram as jogadas. Substituições estratégicas incluíram Marquinhos, João Pedro, Estêvão e Raphinha, mas a Seleção não conseguia impor ritmo.
Aos 18, Raphinha bateu falta que explodiu na barreira. Aos 21, Bruno Guimarães avançou e finalizou para Lampe. Em seguida, aos 25, Robson Matheus chutou de fora, mas Alisson espalma. Estêvão, aos 28, cruzou, e a defesa boliviana afastou. Aos 30, Miguelito ainda criava perigo, mas sem direção. Aos 41, Algarañaz cabeceou, e Alisson realizou milagre.

Sem apoio à sua volta, Caio Henrique encara sozinho a missão de avançar contra a forte marcação boliviana | Raphael Guimarães
Nos minutos finais, a situação brasileira ficou ainda mais crítica: bolas reservas desapareciam ou chegavam murchas, os jogadores corriam atrás do resultado exaustos, e a Bolívia controlava o ritmo sem dificuldade.
O impacto indireto: Venezuela eliminada
O resultado da partida teve efeito direto sobre a Venezuela. Se o VAR não tivesse marcado o pênalti duvidoso, a Bolívia não teria vencido, e a Venezuela se classificaria para a repescagem da Copa do Mundo. A improvável vitória boliviana, jogando em estádio desigual e com altitude extrema, abriu caminho para a própria Bolívia sonhar com a Copa, enquanto a Venezuela, que vive conflito com os EUA, terminou eliminada após perder de 6 a 3 para a Colômbia em casa.
Crítica final: esforço brasileiro e injustiça
Sob o comando de Carlo Ancelotti, o Brasil lutou dentro de suas limitações físicas e táticas. Jogar acima de 4.000 metros, enfrentar bolas murchas e desaparecimento de gandulas, somado a decisões polêmicas do VAR, criou um cenário desumano. A Seleção deu tudo, mas o pênalti duvidoso decidiu a partida. Ao mesmo tempo que decidiu, também, a eliminação da Venezuela.
“A partir do momento que te colocam para jogar a 4 mil metros de altitude para ganhar o jogo desfavorece as outras seleções. O jogo estava equilibrado, o árbitro achou um pênalti no primeiro tempo”, disse o atacante Raphinha, do Brasil.

Carlo Ancelotti acompanha atento o jogo da beira do campo, em seu primeiro jogo na altitude, buscando alternativas para o Brasil reagir à pressão da Bolívia em El Alto | Raphael Guimarães
A Bolívia venceu, o Brasil terminou em quinto lugar nas eliminatórias, e a Venezuela foi eliminada de forma indireta. Hoje, a injustiça venceu, mas a coragem e dedicação dos jogadores brasileiros não podem ser questionadas. Eles correram até o limite, mas algumas derrotas, infelizmente, têm gosto de conspiração e condições extremas.
Altitude no futebol coloca saúde de atletas em risco
A princípio, vale destacar que jogar futebol em altitudes extremas, como a da partida de hoje, 4 mil metros acima do nível do mar, representa um abismo físico e moral para atletas não adaptados. Sobretudo, trata-se de cenário que exige resistência anaeróbica exacerbada. Como resultado, aumenta os riscos à saúde e gera desigualdade competitiva. Portanto, não é apenas difícil, é desumano.
Mas o assunto não representa novidade alguma no mundo da bola, que gira em torno de dinheiro. Em outros tempos, a FIFA já chegou a banir partidas internacionais acima de 2,5 mil metros. Justamente, por reconhecer os riscos fisiológicos, bem como por haver desigualdade competitiva.
Por fim, uma pesquisa realizada por uma universidade boliviana, notadamente a Universidad Mayor de San Andrés – comparou jogadores aclimatados (habitantes de altitudes elevadas) com não aclimatados a 3,6 mil metros.
Em resumo, o resultado do estudo mostrou que ambos sofreram redução na taxa de gasto energético e no volume máximo de oxigénio que o seu corpo consegue consumir e utilizar durante um exercício físico intenso (VO₂máx). Contudo, quem não estava aclimatado apresentou impacto ainda maior, confirmando que há risco à saúde e perda extrema de desempenho.
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A cada 1.000 metros acima do nível do mar, o time visitante tem queda significativa de rendimento.
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Em torno de 4.000 metros, a equipe visitante sofre uma desvantagem de quase dois gols em média.
Ficha Técnica
Competição: Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026
Data: 9 de setembro de 2025
Horário: 20h30 (horário de Brasília)
Local: Estádio Municipal de El Alto, Bolívia (4.100 metros de altitude)
Árbitro: Cristián Garay (Chile)
Assistentes: Miguel Rocha e Juan Serrano (Chile)
Árbitro de Vídeo (VAR): Rodrigo Carvajal (Chile)
Bolívia 1 x 0 Brasil
Gol
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Bolívia: Miguelito (pênalti aos 45’ do 1º tempo)
Cartões Amarelos
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Brasil: Bruno Guimarães (35’ do 2º tempo), Fabrício Bruno (39’ do 2º tempo)
Escalação da Bolívia
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Goleiro: Carlos Lampe
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Defensores: Diego Medina (substituído por Yomar Rocha), Luis Haquin, Efraín Morales, Roberto Fernández
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Meio-campistas: Villamil, Robson Matheus, Ervin Vaca (substituído por Héctor Cuéllar), Paniagua
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Atacantes: Miguelito, Enzo Monteiro (substituído por Algarañaz)
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Técnico: Óscar Villegas
Escalação do Brasil
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Goleiro: Alisson
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Defensores: Alexsandro, Marquinhos, Fabrício Bruno, Caio Henrique
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Meio-campistas: Andrey Santos (substituído por Jean Lucas), Bruno Guimarães, Paquetá
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Atacantes: Luiz Henrique (substituído por Raphinha), Richarlison (substituído por João Pedro), Samuel Lino (substituído por Estêvão)
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Técnico: Carlo Ancelotti
Estatísticas da Partida
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Finalizações: Bolívia 13 x 3 Brasil
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Finalizações no Gol: Bolívia 4 x 1 Brasil
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Posse de Bola: Bolívia 58% x 42% Brasil
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Escanteios: Bolívia 5 x 2 Brasil
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Faltas: Bolívia 15 x 12 Brasil