O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, corre o risco de perder os benefícios da delação premiada após a divulgação de áudios em que critica a atuação da Polícia Federal (PF) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Cid foi preso novamente na sexta-feira (22) por determinação de Moraes, após a revista Veja publicar as mensagens de áudio. O STF entendeu que ele descumpriu medidas cautelares do acordo de delação ao fazer as declarações. O militar também vai responder pelo crime de obstrução de Justiça.
Cid estava em liberdade desde setembro de 2023, quando assinou a delação. A partir da nova prisão, a PF avalia se os benefícios concedidos a ele serão mantidos. A decisão final caberá ao STF.
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Contudo, Cid delatou em troca de liberdade para responder aos processos contra ele. Ele colaborou em duas frentes: na investigação sobre fraudes em certificados de vacinação contra a covid-19 e no inquérito sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado no governo Bolsonaro.
Assim, se a PF concluir que Cid não cumpriu o acordo, a delação pode ser rescindida. Isso não anularia a delação, mas cancelaria os benefícios, como a liberdade. A rescisão de delações já foi utilizada em outras grandes investigações, como no caso dos executivos do grupo J&F em 2017.
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Dessa forma, nos áudios, Cid afirma que foi pressionado pela PF a delatar episódios dos quais não tinha conhecimento ou “que não aconteceram”. Ele também critica a PGR e o ministro Moraes, dizendo que eles têm uma “narrativa pronta” e pretendem “prender todo mundo”.
Em audiência judicial, Cid confirmou ter enviado os áudios como um “desabafo”. Assim, ele reafirmou que delatou espontaneamente e que não houve pressão da PF ou do Judiciário. Cid não revelou para quem enviou os áudios e será investigado por isso.
Enfim, a defesa de Cid argumenta que os áudios foram um desabafo em meio a um momento difícil.