A elegância e a simpatia, assim como a objetividade nas respostas, continuaram prevalecendo nas entrevistas coletivas concedidas pelo italiano Carlo Ancelotti, técnico da seleção brasileira. Demonstrando não estar se sentindo cobrado, apesar de dizer que a tranquilidade ainda está bastante distante do seu trabalho, o treinador disse que o time está pronto — em todos os sentidos — para enfrentar o Paraguai nesta quarta-feira (10).
A partida acontece na Arena Corinthians, às 21h45, pela 16ª rodada das Eliminatórias da América do Sul para a Copa do Mundo. Este, em suma, trata-se do antepenúltimo jogo da disputa. Entretanto, o Brasil se vê em uma situação muito diferente das edições anteriores. Afinal, a disputa continental sempre teve domínio da seleção brasileira desde os preparativos para a Copa do Mundo da Alemanha de 2006.
Porém, há duas exceções que podem servir de entusiasmo para os torcedores mais supersticiosos. Para a Copa do Mundo de 1994, o Brasil foi para o último jogo contra o Uruguai, no Maracanã, precisando muito vencer. Romário — até então excluído da seleção — teve sua convocação anunciada pela dupla Parreira-Zagallo, atendendo ao clamor da torcida. O fim desse episódio já se tornou histórico. Romário fez os dois gols do jogo e o Brasil sagrou-se tetracampeão nos Estados Unidos.
Quando a seleção brasileira conquistou o pentacampeonato, em 2022, a classificação para a Copa do Mundo da Ásia, disputada no Japão e na Coreia do Sul, também veio na última rodada. Depois de perder por 3×1 da Bolívia, que sequer tinha mais chances de ir ao mundial na 17ª rodada, o Brasil precisava vencer a Venezuela de qualquer jeito. O jogo, disputado no estádio Castelão, em São Luís, no Maranhão, terminou 3×0, com dois gols de Luizão e um de Rivaldo.
Após a coletiva, a imprensa pôde acompanhar os minutos iniciais do treino.
“Mui bueno”
Ancelotti elogiou a seleção do Paraguai, dizendo que o adversário está jogando um futebol “mui bueno”. Assim como o treinador disse, os números não mentem. Após um péssimo início de competição, ainda em 2023, o ponto de virada do adversário aconteceu, justamente, contra o Brasil, em setembro do ano passado, na 8ª rodada. De lá pra cá, eles estão invictos na competição. Derrotaram, inclusive, a própria toda-poderosa Argentina, atual campeã do mundo e líder da competição.
Valorizar o Paraguai não consiste num erro de Ancelotti, pois em caso de vitória ou empate, eles estão classificados para o mundial. O treinador demonstra saber lidar bem com a torcida, pois além de estar chegando agora, ainda desfruta dos elogios da mídia brasileira de “melhor treinador do mundo”. Contudo, os jogadores dentro de campo vão sofrer, além da pressão de sempre, a que o treinador, neste momento, passa longe de sofrer.
O gringo que está se esforçando para “falar brasileiro” o mais rápido possível esconde o jogo e o time.
Não dá pistas, não abre escalação. Cabe a nós, jornalistas, insistir em perguntar. Mas ele, sempre de forma elegante, sabe se esquivar sem desagradar. Afinal, todos estão trabalhando e em busca do melhor resultado para os objetivos das carreiras.
“Me molesta que me traduzam. Vou tentar rapidamente aprender brasileiro”, disse ao não entender algumas perguntas feitas em português.
A volta de Raphinha
Ao contrário do que está dizendo a grande mídia, Ancelotti em momento algum disse na coletiva: Raphinha entra jogando. Afirmação e dedução em jornalismo devem ter tratamento criterioso, pois vira achismo e especulação.
Mas, diante de um quebra-cabeças com mil peças, juntando 300 delas já dá mais ou menos para saber que a defesa não muda. No meio de campo, Bruno Guimarães e Gérson lutam pela permanência caso ele use Raphinha no meio. Deixando claro como um palpite, mas jamais como uma certeza, Raphinha será titular.
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No ataque, Matheus Cunha deve sair jogando no lugar de Richarlisson e Estêvão pode perder vaga para Gabriel Martinelli caso Raphinha jogue pelo meio. Contudo, cremos que a formação inicial terá definição com o desenrolar de Uruguai x Venezuela, partida que acontece antes, às 20h (de Brasília).
Olhando o futebol do mundo inteiro
Na coletiva, Ancelotti confirmou que conversou com o Gerson sobre a eventual transferência do jogador para o Zenit, na Rússia. Mas não disse como o assunto surgiu entre eles ou quem provocou a conversa. Aos jornalistas, ele disse que a decisão cabe ao jogador. Além disso, frisou que a comissão técnica já observa diversos jogadores brasileiros em campeonatos de todo o planeta. Nesse sentido, a Rússia não se trata de uma exceção.
De igual forma, Ancelotti se referiu ao Brasileirão e valorizou a competição e os atletas. Disse que os jogadores que estão atuando no futebol brasileiro tem capacidade e potencial para disputar qualquer liga do mundo e que os atletas que estão no radar continuarão sob observação.
Por fim, destacou o empenho dos atletas e da comissão técnica nesses dias. Elogiou muito a estrutura da Arena Corinthians.
“Vestiário motivado, sério, profissional, boa conexão com o corpo técnico e com todos que trabalham aqui, um ambiente muito familiar. Mas não digo um ambiente tranquilo, pois é um ambiente novo para mim”.
Porém, quando indagado sobre sua dimensão como treinador, respondeu de forma enfática que grande é o futebol brasileiro, que tem a seleção mais vitoriosa do mundo. De fato, no futebol mundial, não há nome algum maior do que o do Brasil.
Eliminatórias do Penta
Naquela oportunidade, o Brasil terminou em terceiro lugar, empatado com o Paraguai, em quarto, ambos com 30 pontos, definindo sua classificação na última rodada. Entretanto, a seleção canarinho levou vantagem no saldo de gols como critério para desempate. À nossa frente ficaram a Argentina, com 43 pontos; o Equador, com 31.
Uruguai e Colômbia terminaram em quinto, com 27 pontos. O Uruguai ameaçava a classificação brasileira, podendo chegar a 29 pontos, desde que vencesse a Argentina. Todavia, o jogo terminou 1×1. Já a Colômbia, lutava mais pela quinta vaga e goleou o Paraguai por 4×0, chegando aos 27 pontos. ameaçavam a classificação direta do Brasil.
No entanto, a seleção celeste tinha melhor saldo de gols, ficou em quinto lugar e teve que disputar a repescagem internacional com a Austrália, levando a melhor no placar agregado de 3×1.
Em contrapartida a péssima campanha nas eliminatórias, que teve Luxemburgo, Leão e Felipão como técnicos, veio a quinta estrela na camisa da seleção brasileira. Sabe-se lá se isso não se trata de um prenúncio para a sexta?