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Amigo de Jordy: Major Clímaco, do Segurança Presente Niterói , confirma parentesco com fantasmas do “Escândalo do Ceperj”

Reportagem e edição: André Freitas
A fumaça que embaça a visão de quem tenta enxergar relação de proximidade entre o Major Clímaco, Coordenador do Segurança Presente Niterói, e o deputado federal Carlos Jordy (PL), candidato a prefeito pelo PL ganha um novo componente de nebulosidade Trata-se do envolvimento de pessoas ligadas a ambos no maior esquema de corrupção da história do Rio de Janeiro: o “Escândalo do Ceperj.
Dois parentes do Major Clímaco – Cátia Cristina Briggs Clímaco das Chagas e Arthur Augusto Briggs Clímaco – estão entre os citados na “Lista dos Fantasmas da Ceperj”.
Eles realizaram saques de dinheiro na boca do caixa, em locais distintos do município do Rio de Janeiro. Ambos possuem vínculos empresariais que tornam suas participações no esquema ainda mais intrigantes, registradas no auge do escândalo de corrupção da Fundação Ceperj. Cátia e Arthur fizeram retiradas de dinheiro em 2022, poucos meses antes das eleições. O militar reconhece a relação de parentesco, mas nega envolvimento na questão, em contraditório que está no final da reportagem.
No submundo das relações de poder, governo e ideologia entre o Major Clímaco e o deputado federal Carlos Jordy, a linha fina que deveria separar o militarismo da política tem sido arrastada para o lado do pragmatismo bolsonarista. A relação de proximidade entre os dois, que vai além dos deveres legais do serviço público, bem como da carreira militar, coloca em xeque o cumprimento das funções republicanas que deveriam nortear as instituições brasileiras.
O verdadeiro ponto de inflexão disso está nas manifestações políticas públicas de Clímaco em claro favorecimento a Carlos Jordy, seu amigo. Assim, torna-se legítimo questionar se os seus familiares, os empresários Cátia Cristina e Arthur Augusto ingressaram pelas mãos de Jordy no Ceperj. Até porque tanto a esposa do deputado como seu cunhado e uma fidelíssima militante receberam dinheiro em espécie, do Ceperj.

O Sequestro do Niterói Presente

Entre 2017 e 2021, o programa "Niterói Presente" funcionou sob gestão municipal | Douglas Macedo

Entre 2017 e 2021, o programa “Niterói Presente” funcionou sob gestão municipal | Douglas Macedo

A Operação Segurança Presente, um braço do governo estadual para reforçar o policiamento em áreas estratégicas, inicialmente foi subtraída de Niterói, em 2021 pelo governador Cláudio Castro. O município geria o programa, ainda com o nome de “Niterói Presente”, visando garantir a manutenção da segurança pública e, principalmente, do policiamento de proximidade, num período em que o governo fluminense atravessava grave crise econômica e financeira.
Porém, com a renegociação das dívidas do estado do Rio com governo federal, o erário fluminense passou a contar novamente com recursos. Desse modo, vendo grande potencial político na gestão do programa, que poderia turbinar salários de policiais militares que se voluntariassem a trabalhar em seus dias de folga, Cláudio Castro copiou o modelo de Niterói e aplicou em todo estado do Rio.
Porém, a gestão de tudo ficou nas mãos da Secretaria de Governo – órgão político de qualquer estrutura de Poder Executivo, fora de ingerência da Secretaria de Polícia Militar.
Contudo, há algum tempo, o “Segurança Presente Niterói” tem se confundido com uma plataforma de projeção política do campo da direita de Niterói. Nesse sentido, não restam dúvidas de que Carlos Jordy (PL) se trata de seu maior expoente, assim como o vereador Douglas Gomes. Mas não se pode tirar esse mérito do Major Clímaco, coordenador do programa na cidade, que se tornou um rosto conhecido na cidade. Acima de tudo, pela eficiente estratégia de comunicação que adotou para criar proximidade com os moradores da cidade.

Zap, Zap

Inicialmente, o Major Clímaco criou dezenas de grupos de WhatsApp, divididos por bairros e regiões. Aparentemente, com o propósito de facilitar a comunicação entre os cidadãos e o Segurança Presente.
A princípio, um inteligente serviço de utilidade pública. Porém, sob o arbítrio discricionário do Major Clímaco, fica sob seu comando determinar quem entra, permanece ou sai.  O Folha do Leste, por exemplo, após ficar por muito tempo em alguns grupos, foi excluído, assim como seu diretor-responsável, André Freitas. O motivo: a publicação de uma notícia sobre gastos de campanha de Carlos Jordy. Não houve compartilhamento de nenhum link desta reportagem em nenhum dos grupos de “alerta” do Segurança Presente.

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E como a agenda dos grupos sempre está associada aos casos de criminalidade e violência na cidade, o alto engajamento da figura do Major Clímaco, acompanhada de suas opiniões de natureza social ou política – mesmo que discretas, passaram a circular nesses grupos. Sem contar o vultoso banco de dados acumulado por ele, com números de telefones de dezenas de milhares de eleitores.
Nestes espaços, tornou-se comum a exibição de imagens de pessoas sendo presas e acusadas por crimes. Igualmente, seus membros fazendo apontamento da imagens de pessoas diversas, acusando-as de crimes.
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De igual forma, tais espaços serviram para a exposição de pessoas detidas – por vezes em vídeo, com a divulgação de boletins circunstanciados de prévias de ocorrência, assim como de vídeos de prisões realizadas e conduções de criminosos a delegacias.
Tudo isso fartamente distribuído à imprensa – inclusive ao Folha do Leste – e por diversas vezes, até esse veículo de comunicação, se tornar “persona non grata” do Major Clímaco, conforme já relatamos.

Bolsonarista e 100% Jordy

Fora isso, persiste o fato do Major Clímaco já ter apoiado abertamente Carlos Jordy em suas redes sociais, apesar do Estatuto da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Lei 443 do Estado do Rio de Janeiro, de 1º de julho de 1981) proibir quaisquer manifestações políticas. Aliás, não só Carlos Jordy, como também Renan Jordy, Cláudio Castro e Jair Bolsonaro, indicando voto neles nas eleições de 2022.
Vale destacar que a disciplina faz parte da base institucional da Polícia Militar. Assim sendo, o Estatuto da Polícia Militar do Rio de Janeiro a define como rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo policial militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo”.

Por último, ainda de acordo com a legislação, deve-se manter a disciplina em todas as circunstâncias da vida. A regra vale para policiais militares da ativa, da reserva remunerada e reformados.

Cadê a disciplina?

Primeiramente, a interpretação do texto da lei, nos dá o direito de refletir sobre a efetiva disciplina do militar no que diz respeito às suas manifestações políticas.

A persistência em demonstrar apoio político a candidatos, sobretudo Carlos Jordy, não se resumiu a indicação de votos na eleição de 2022.
Major Clímaco, juntamente com sua família, fez questão de publicar em sua rede social que compareceu a um evento comemorativo de Carlos Jordy, em fevereiro de 2023. A publicação tem como data 11 de fevereiro, três dias após a data natalícia de Carlos Jordy.
Quando a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do deputado federal Carlos Jordy, o Major Clímaco prestou solidariedade ao parlamentar em sua rede social.
“Todo apoio amigo Exmo. Dep. Federal @Carlos Jordy”, publicou no Instagram, em 18 de janeiro de 2023.
Alguns dias antes, uma outra publicação dizia o seguinte:
“Reunião sobre segurança e ordem pública com Exmo. Dep. Federal é pré-candidato à Prefeitura de Niterói @Carlos Jordy”.
Em seguida, após a repercussão de que ele estaria infringindo o Estatuto da Polícia Militar, o Major Clímaco apagou as publicações.

Ataque a oponente de Jordy com mensagem de ódio

Em 23 de fevereiro, o Major Clímaco fez um duro ataque político ao prefeito de Niterói, Axel Grael, bem como ao então Secretário Executivo, Rodrigo Neves, nos diversos grupos que ele controla de “proximidade” com a população.

Tal reação ocorreu em revide à declaração dada na época pelo prefeito Axel Grael. Após o brutal assassinato de um porteiro numa escola de Icaraí, na Zona Sul, Grael denunciou a deficiência de efetivo do 12º BPM (Niterói). Ao mesmo tempo, afirmou que, diante de tal realidade, o governo municipal desejava voltar a gerir o Segurança Presente (antigo Niterói Presente).

A reação de Clímaco se deu de forma violenta, referindo-se a Rodrigo Neves como “verme” e ao grupo político de Axel Grael como “pessoas más”, nos grupos de WhatsApp controlados por ele.

Posteriormente, teve que se desculpar a mando de seus superiores.

“Quero pedir desculpas aos cidadãos niteroienses que acompanham meu trabalho pelo ato impulsivo, mas é que realmente me senti injustiçado pela gravidade da acusação. Estamos em ano Político, meus comandantes não acharam a fala condizente e adequada com a função que tenho, mas entenderam e me orientaram a sempre responder no dia seguinte de forma mais técnica”, afirmou o policial.

Tal fato lhe rendeu uma moção de repúdio aprovado pela Câmara Municipal de Niterói.

Todavia,  seu amigo e aliado político, deputado federal Carlos Jordy, saiu em sua defesa no Congresso Nacional. Na tribuna da Câmara, Jordy disse que “Clímaco sofria perseguição e era criticado por se manifestar politicamente nas redes sociais”.

Elo de poder personalista

A conexão entre Clímaco e Jordy não é acidental. O major não só posa em eventos políticos ao lado de seu amigo parlamentar, mas também chegou a atacar publicamente o prefeito de Niterói, Axel Grael, e o ex-prefeito Rodrigo Neves, figuras emblemáticas a quem Carlos Jordy e seu grupo político fazem oposição na disputa eleitoral pela prefeitura de Niterói.
Em grupos de WhatsApp e redes sociais, Clímaco foi além de suas funções como coordenador de segurança e policial militar, entrando por vezes na arena política.
A escalada de Clímaco na estrutura do Segurança Presente e sua íntima conexão com Jordy mostram como o bolsonarismo – mais do que uma ideologia política – se tornou uma força de poder personalista, implacável em defender seus seguidores e pronta a deslegitimar qualquer voz discordante.
Nesse cenário, instituições judiciárias, veículos de imprensa e ativistas políticos do campo progressista e até mesmo social-democratas se tornam alvos constantes. Frequentemente, isso ocorre quando seus membros denunciam os transgressores da fronteira que separa a segurança pública da militância política.

Para eles, vale tudo

Esse é um dos grandes paradoxos do bolsonarismo: um movimento que se constrói com base em discursos de combate à corrupção, ordem e moralidade, mas que fecha os olhos para irregularidades, ilegalidades e desvios de conduta quando praticados por seus aliados mais próximos.
O bolsonarismo, ao contrário do conservadorismo tradicional, que defende a ética como princípio absoluto, se amolda às conveniências do momento.

Na boca da urna

Em Niterói, o segundo turno se aproxima, e o eleitorado da cidade terá de escolher entre Carlos Jordy e Rodrigo Neves.
Apesar de alvo frequente de acusações por parte de Jordy e seus aliados, o pedetista agora vê a poeira da corrupção assolar o campo de seu adversário.
Outro caso está relacionado a pessoas ligadas a Carlos Jordy fazendo parte da lista de funcionários fantasmas do Ceperj, cuja lista contem sua esposa, cunhado, uma marqueteira política e outras pessoas.
Agora, o fato envolvendo Clímaco e seus familiares enfraquece o discurso moralista que Jordy tanto propaga, evidenciando as contradições internas de seu grupo político.
Resta saber como os eleitores de Niterói, em meio a esse turbilhão, reagirão à descoberta de que o combate à corrupção tão pregado pelos bolsonaristas, na verdade, é seletivo.
O bolsonarismo, que conquistou muitos corações com promessas de acabar com os vícios do sistema político brasileiro, hoje enfrenta seu maior desafio: provar que a ordem e a moralidade que exalta são de fato universais – ou se são aplicáveis apenas aos seus oponentes políticos.

Contraditório

Diante da abordagem da reportagem com relação à presença de familiares do Major Clímaco no “Escândalo do Ceperj”, nossa reportagem entrou em contato com o militar. O coordenador do Segurança Presente Niterói se declarou amigo do deputado federal Carlos Jordy:
“O conheci quando assumi a Coordenação da Operação Segurança Presente de Niterói, assim como diversas autoridades do Legislativo, executivo e judiciário, e hoje tenho relação de amizade”, falou.
O Major disse que jamais indicou pessoas para trabalhar em projetos do Ceperj, bem como disse desconhecer a existência de parentes que ocupem ou tenham ocupado cargos em comissão.
Sobre o “Escândalo do Ceperj”, Clímaco reconheceu a relação de parentesco com Cátia Cristina Clímaco e Arthur Augusto Briggs Clímaco, mas alegou não ter vínculos próximos com ambos. No entanto, disse que os dois tem relação política com um outro parlamentar bolsonarista
“(Cátia) Esposa do meu Primo de 1° Grau por parte de pai, que faleceu, era Bombeiro Militar do RJ, tem mais de 20 anos que faleceu (Arthur Climaco) e meu primo, filho da Esposa do meu tio, tem o mesmo nome dele, são ligados ao deputado federal Gurgel, que tentou uma vaga na Câmara dos Vereadores do RJ. Mas não tenho ligação muito próxima com os mesmos, somente com o outro filho, hj SGT Briggs, que já trabalhou comigo, mas não trabalha mais há 6 anos”.
Além disso, o Major Clímaco negou qualquer envolvimento ou conhecimento prévio sobre as atividades de seus familiares.

“Sou profissional de segurança pública”

Por fim, Clímaco disse, com orgulho, que em 21 anos de carreira na Polícia Militar, jamais sofreu qualquer punição. Ele ainda fez questão de ressaltar seu currículo, alegando, sobretudo, se tratar de profissional de segurança pública.
“Tenho um histórico de moções, medalhas. A gente recebe elogios, tanto de esquerda quanto de direita como de centro, mais pelo trabalho do que pela parte pessoal. Como a gente trabalha na função pública, tem que trabalhar para todos”, argumentou.
Sobre as acusações de politização do Programa Segurança Presente e a violação do Estatuto da PMERJ, Clímaco já havia afirmado, noutra ocasião este ano, que seus atos foram mal interpretados. Tal qual e que sua participação em eventos políticos e publicações em redes sociais eram manifestações pessoais, sem influência em suas atividades profissionais:
“Me manifestei de forma impulsiva em alguns momentos, mas sempre com o intuito de defender a operação e a segurança pública da cidade. Reconheço que alguns excessos aconteceram, e já me retratei publicamente quando necessário, sempre respeitando as orientações de meus superiores”, destacou.
Apesar de suas justificativas, a sombra de seu envolvimento com Carlos Jordy e o escândalo da Ceperj continuarão a pairar sobre o Major. No campo eleitoral de Niterói, esse imbróglio promete influenciar a percepção pública de quem realmente está lutando pela ordem e moralidade – e quem, na verdade, está se beneficiando das brechas do sistema. Felizmente, como ainda vivemos em um estado democrático de direito, o tempo responderá.
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