Estado do Rio de Janeiro

Alto Noroeste Fluminense entra no mapa dos cafés especiais do Brasil

Alto Noroeste Fluminense entra no mapa dos cafés especiais do Brasil | Divulgação/Sebrae

No Sítio Pelegrini, em Varre-Sai, o cheiro de café recém-torrado avisa: a colheita começou. O produtor rural Fernando Pelegrini comemora a produtividade — entre 50 e 60 sacas por hectare — o dobro da média nacional.

“Este ano vou tirar entre 50 e 60 sacas de café por hectare. A média nacional é de 28 sacas.”, celebra o produtor rural. “Tem a altitude, a temperatura, mas eu acho que o que influencia mais é o manejo do solo, que o Sebrae Rio e a Emater nos ajudam a fazer de forma correta, para melhorar a qualidade do grão e também para ter mais frutos no pé”.

Segundo o Sebrae, produtores atendidos por programas de capacitação chegam a essa alta produtividade. Desde 2014, Sebrae Rio, Emater, Senar e secretarias de agricultura formam produtores do Alto Noroeste Fluminense — que abrange Varre-Sai, Natividade, Porciúncula e Bom Jesus do Itabapoana. Hoje, mais de 40 famílias produzem 30 marcas de cafés especiais, gourmet e fermentados.

Do terreiro ao turista

No Sítio Vai e Volta, os irmãos Rodolphi apostaram no café de qualidade. Fermentam os grãos em tonéis e vendem na própria sala de torra. O pacote tradicional sai por R$ 15. Já o fermentado custa R$ 50. Os visitantes, cada vez mais frequentes, conhecem o processo de perto.

“O Sebrae chegou na hora certa. Hoje temos turistas e estrutura para recebê-los”, diz Fidelis Rodolphi.

A presença no turismo se reflete na nova rota da “Café e Cachaça”, que antes passava só por Minas e Espírito Santo. Agora, o Alto Noroeste Fluminense também é parada obrigatória para quem busca experiências com cafés artesanais.

“Gente do Brasil inteiro vem pra cá. O povo é acolhedor e o café é um dos melhores que já provei”, diz Francisco Cabral, guia turístico da rota.

Café com identidade e carbono neutro

A qualidade é tanta que a região já está em processo para obter a Indicação Geográfica (IG) junto ao INPI.

“Temos café quase 100% artesanal, pouca mecanização, pouco defensivo e características sensoriais únicas”, afirma Suhail, produtor e presidente da associação local.

Já foram identificados aromas como chocolate e amêndoa.

+ MAIS NOTÍCIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO? CLIQUE AQUI

O Sebrae também apoia um projeto para tornar a região a primeira do Brasil com produção de café carbono neutro.

“Com produção adensada, manejo sustentável e mínima entrada mecânica, o potencial é enorme”, diz Rafael Melo, da e-Carbon.

Se viabilizado, o projeto permitirá a geração e venda de créditos de carbono pelos produtores — uma fonte de renda extra baseada em práticas sustentáveis.

Do preconceito à excelência

Durante décadas, o “Café Rio” foi sinônimo de má qualidade. Mas isso mudou. Hoje, o Rio de Janeiro já aparece no mapa da Semana Internacional do Café (SIC). Em 2023, o analista José Maurício Apolônio, do Sebrae, viu o reconhecimento pessoalmente:

“O alfinete verde no mapa estava lá, exatamente no Alto Noroeste. Foi emocionante.”

A região já produz 80% do café arábica consumido no estado do Rio de Janeiro. Muitas propriedades têm apenas 2 hectares. A tradição vem de família, com o saber passado de geração em geração.

E agora, com qualidade reconhecida, produção artesanal, atrativos turísticos e projetos sustentáveis, o Alto Noroeste Fluminense se firma como um dos nomes mais promissores do café especial no Brasil.

Você também pode gostar

Deixar uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *