Em janeiro deste ano, a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSG) completou 10 anos de sua inauguração. Na ocasião, a meta era frear a alta de assassinatos na região Leste Fluminense. No entanto, uma década depois, o baixo índice de elucidação de crimes tem colocado em xeque a credibilidade da especializada.
Em janeiro de 2014, a Polícia Civil afirmou que a instalação da DHNSG teria como objetivo desafogar o trabalho das delegacias distritais, que passariam a se dedicar às investigações de outros tipos de crimes. Entretanto, o que se observa, atualmente, é justamente o contrário.
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As distritais permanecem sobrecarregadas, especialmente aquelas que são centrais de flagrantes, como a 76ª DP (Niterói) e a 73ª DP (Neves). Ao mesmo tempo, a DHNSG passa a maior parte do tempo vazia, tendo seus picos de movimento justamente em dias nos quais acontecem assassinatos de maior repercussão.
A nível estadual e nacional, a credibilidade das investigações de homicídios no Rio de Janeiro ficou ainda mais arranhada após a prisão do ex-chefe da Policia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, no último domingo (24). A Polícia Federal o acusou de participação no planejamento da execução da vereadora da cidade do Rio, Marielle Franco (PSOL), em 2018.
Indicadores
Apesar de possuírem uma delegacia destinada exclusivamente a investigar homicídios, metade das cidades atendidas pela DHNSG fecharam 2023 com aumento nos indicadores de homicídios dolosos. A maior alta foi em Itaboraí, que saltou de 50 registros para 71 (aumento de 42%). Já Maricá oscilou de 32 para 35 casos (alta de 9,4%). Em São Gonçalo, os casos reduziram 9,6%, mas se mantiveram em patamar alto, diminuindo de 146 para 132 registros. Por sua vez, Niterói caiu de 45 para 35 casos, com redução de 25,5%.
Casos de repercussão
Ao longo dos últimos meses, a região registrou sete assassinatos que, embora tenham repercutido, continuam sem respostas. Em 17 de março, bandidos mataram a tiros uma família formada por Filipe Rodrigues, de 24 anos, Rayssa Santos, de 23, e Miguel Filipe, de apenas 7 meses, no Baldeador, Zona Norte de Niterói.
No dia 12 do mesmo mês, o sargento Gabriel Leite Fernandes, de 33 anos, lotado no 35º BPM (Itaboraí), foi morto a tiros na cabeça durante uma operação na comunidade do Penedo, em Itaboraí. Em 15 de fevereiro, três jovens da mesma família, João Vitor Soares de Mendonça, Pedro Gabriel Barros Xavier, e Jhony Guilherme Veríssimo dos Santos, foram executados também em Itaboraí.
Já em 9 de janeiro, criminosos assassinaram o comerciante Thiago Trigueiro Gomes, em frente a um depósito de bebidas, no bairro do Porto da Pedra, em São Gonçalo. No dia 5 de dezembro de 2023, bandidos mataram e incendiaram a casa de Felipe Mariposa Junes, no bairro de Jurujuba, em Niterói.
Nem mesmo autoridades escaparam da violência. Em 7 de novembro, o vereador de São Gonçalo, Cici Maldonado, (PL), morreu após ser baleado em frente à sua casa, no bairro do Gradim. E em 25 de agosto, bandidos executaram o jovem Matheus Cruz Peçanha, com dezenas de tiros, em Itaipu, Região Oceânica de Niterói.
Problema nacional
A reportagem do FOLHA DO LESTE conversou com o advogado criminalista Reinaldo Santos de Almeida, que fez uma análise sobre essa questão. Ele pontuou que o baixo percentual de resolução de crimes trata-se de um problema nacional, denotando a ineficiência das investigações.
Infelizmente, o Brasil tem o índice de elucidação de crimes contra a vida em torno de 37%, segundo dados de pesquisa efetuada em 2022, pelo Instituto Sou da Paz, o que mostra a absoluta ineficiência da investigação policial no caso de crimes de homicídio”, disse.
Além disso, Almeida defendeu que a Polícia Civil invista no reforço de pessoal e tecnológico da DHNSG e de outras especializadas. Ele destacou ainda a importância de a famílias de vítimas constituírem advogados para garantir o acompanhamento do inquérito policial.
O investimento em recursos humanos, materiais, treinamento e inteligência policial, bem como a escolha e valorização estratégica de policiais experientes e comprometidos com a atividade investigativa”, acrescentou.
Contraditório
Procurada pelo FOLHA DO LESTE, a Polícia Civil disse que as investigações sobre os casos citados estão em andamento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.
Os agentes realizam diligências para esclarecer os fatos e identificar as respectivas autorias do crime. Em relação ao caso do policial militar Gabriel Leite Fernandes, um suspeito já foi preso em flagrante e responderá pelos crimes de homicídio qualificado, porte ilegal de arma de fogo, tráfico de drogas e associação para o tráfico.
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A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) acrescenta que, conforme dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), o primeiro mês de 2024 registrou significativas quedas nos indicadores de criminalidade no estado do Rio de Janeiro.
Em janeiro, a Letalidade Violenta continuou apresentando números históricos, com uma redução de 15% em relação a janeiro de 2023. Foram 317 mortes em janeiro de 2024 e 375 em janeiro de 2023. Os homicídios dolosos também registraram diminuição, de 3%, o menor número de vítimas desde 1991. Foram 253 mortes em janeiro de 2024 e 260 em janeiro de 2023.