
PM realiza operação em Santa Bárbara contra migração de traficantes da Maré | Reprodução
Desde sábado (21), moradores de Santa Bárbara, na Região Norte de Niterói, estão atemorizados com informações de que traficantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) teriam migrado de favelas do Rio de Janeiro para o bairro. Especificamente, do Complexo da Maré, comunidade onde há duas semanas as forças de segurança do estado do Rio de Janeiro realizam operações contra o crime organizado.
Tais informações, que o FOLHA DO LESTE teve acesso através de fontes que manteremos sob sigilo, também chegaram à Polícia Militar. Tanto que a corporação ocupa Santa Bárbara desde o sábado, em operação ainda não detalhada pela PM, mas com um efetivo considerável de policiais militares. Inclusive, a PM faz uso de um blindado, além de viaturas.
Por obvio, o setor de inteligência da PM monitora a situação. Todavia, outras fontes do FOLHA DO LESTE ligadas à corporação confirmam a realização de operação, sem revelar detalhes. Apenas ratificam que a presença da PM no bairro tem fundamento nas mesmas informações a que tivemos acesso.
Além disso, criminosos fizeram circular, por meios diversos, informações de que “vermelhou a Santa ”, em alusão à chegada do Comando Vermelho ao bairro. O objetivo fica claro: não só alertar – e alarmar – a população, bem como desafiar o poder público.
Contudo, ainda não temos informações sobre confrontos, prisões ou troca de tiros. Os criminosos chegaram antes da polícia. E com a chegada de policiais e viatura blindada, o clima é de tensão.
Não se trata de novidade que todo prejuízo imposto à criminosos acabe pago pela população. Principalmente, quando eles têm uma grande perda econômica, como o que estamos vendo acontecer no Complexo da Maré. Eles buscam recuperar o dinheiro perdido através de assaltos e, via de regra, a população do asfalto sofre. Ao menos, aconteceu dessa forma no passado. E torna-se difícil crer que será diferente agora, exceto se houver uma grande força tarefa em todo estado do Rio de Janeiro.
Balanço na Maré
MIGRAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO
Esta não se trataria da primeira vez que Niterói e demais cidades do entorno da capital teriam de lidar com os efeitos colaterais da ocupação de comunidades no Rio. A bem da verdade, vale a lamentável, porém necessária comparação, de que tais no Rio equivalem a expressão “varrer a sujeira para debaixo do tapete”.
Por mais que tais operações tenham êxito em seus propósitos, na reocupação dos territórios perdidos pelo poder público para o crime organizado, fica evidente a necessidade de planejamento. Isso, para que áreas de outros batalhões, ou até mesmo cidades diversas não passem a sofrer com a criminalidade.

Unidades de Polícia Pacificadora além de não resolverem violência na capital, aumentaram a insegurança no interior | Crédito: Marcelo Casal/ABr
No governo de Sérgio Cabral, nos anos de 2010, o estado implantou o Programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Muito elogiado e badalado pela mídia quando começou, pois, de fato, solucionou, em curto prazo, alguns problemas na capital, no longo prazo, o projeto se mostrou ineficaz. Todavia, abriu novos mercados para o crime organizado, em especial as milícias, que passaram a ocupar locais antes dominados por traficantes.
O reflexo disso, nos tempos atuais, se trata da guerra milícia x traficantes.
Em abril de 2012, o então secretário de segurança pública, José Mariano Beltrame, admitiu, depois de muito relutar, que houve migração de criminosos do Rio para Niterói.
“Não existe uma informação técnica de que haja efetivamente migração. Claro que ela há, mas não é um dado mensurável, se é um, se são cem ou se são mil. Tivemos 472 prisões em Niterói e 32 do Rio. A migração pode até haver, mas é relativa. O que temos que fazer é atuar aqui, em Niterói e na Serra. Entendo que as coisas possam não estar muito bem, mas estão muito melhor do que estavam”, afirmou na época, dizendo ainda que “enquanto as UPPs não chegam são tomadas atitudes temporárias. “Está planejado. O que não podemos fazer é um movimento pirotécnico. Existe um plano e ele será cumprido”
Onze anos após esse discurso falacioso, resta claro que se havia algo planejado ou um plano a ser cumprido, jamais foi colocado em prática.
Novos mercados para recuperar prejuízo
Porém, a ocupação por UPPs não abriu, somente, espaço para as milícias. Seu pior efeito, produziu consequências no interior do estado, com a migração de facções criminosas e traficantes abrindo novos mercados. Isso, sem o devido investimento na estrutura da segurança pública, ao longo de muitos anos. A situação chegou ao ponto de alguns municípios assumirem programas, como o Niterói Presente – substituído há três anos pelo Segurança Presente. Inclusive, o município de Niterói chegou a assumir o pagamento de gratificações a policiais civis e militares.

Niterói chegou a assumir o pagamento das horas extras das forças de segurança e investiu no programa Niterói Presente, que ajudou a reduzir os índices de criminalidade da cidade aumentados pela migração da criminalidade após as UPPs | Créditos: Prefeitura de Niterói
A região Leste Fluminense, a começar por Niterói e Maricá, sofrem desde então com o avanço da criminalidade, que aqui encontram espaço para sua sobrevida. Enquanto no Rio de Janeiro, há quase um batalhão da PM para cada bairro, Niterói e Maricá contam com apenas um: o 12º BPM.
Somente neste domingo, quase 500 policiais militares estarão à disposição de um jogo de futebol entre Flamengo x Vasco, no Maracanã. O número corresponde a metade de PMs que atuam no policiamento ostensivo de Niterói e Maricá.