Há poucos dias o fotojornalista brasileiro Evandro Teixeira foi homenageado, no Chile, pelas fotos feitas há 50 anos, em plena ditadura daquela país. Evandro registrou com suas lentes a prisão política em que se transformou o Estádio Nacional e foi o primeiro fotógrafo que captou imagens de Pablo Neruda assim que morreu, sendo o único jornalista do mundo a fazê-lo. E os chilenos levam a sério a frase que abre este artigo.
Ela pode ser lida em vários lugares do Estádio Nacional de Santiago. É um recado para que os chilenos não esqueçam de tudo o que aconteceu em sua história recente. E a valorização da história não está apenas nas questões políticas. A três dias da abertura dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, a mais importante competição esportiva realizada no país desde a Copa de 1962, a história se faz presente na recuperação da memória nacional.
Na gigantesca sala de imprensa que receberá quase 2 mil jornalistas, o MPC (Main Press Center, pela sigla em inglês), dois dos 366 lugares estão reservados. Como homenagem, para que a história não seja esquecida. Com máquinas de escrever (será que as novas gerações sabem o que é isso?), fotos e credenciais, os chilenos reverenciam Julio Martinez Pradanos e Sergio Livingstone Pohlhammer, dois de seus mais importantes jornalistas esportivos.
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Ao lado dos lugares, a tela de televisão transmite imagens diferentes das demais que estão na sala. Ali só há lugar para fotos de don Julio e don Sergio, com uma frase emocionante surgindo de vez em quando: “Em memória de dois homens que dedicaram sua vida ao jornalismo esportivo e que estariam encantados de realizar a cobertura de um evento tão importante, como os primeiros Jogos Pan-Americano realizados no Chile”.
É impossível passar por ali sem se emocionar. Pradanos trabalhou em jornais, rádios e televisão por mais de 60 anos e recebeu o Prêmio Nacional de Jornalismo, outorgado pelo ministério da Educação. Sergio Livingstone iniciou no futebol como goleiro. Participou da Copa do Mundo de 1950, no Brasil, e como jornalista esportivo, foi apresentador de televisão e trabalhou em rádio, conduzindo, por 43 anos, diversos programas e transmissões de eventos esportivos.
“Julio Martinez é talvez o mais importante jornalista esportivo do Chile, expressava o sentimento dos chilenos em suas transmissões. Sergio Livingstone foi jogador, capitão da equipe do Chile em 1950 e trabalhou até o momento de sua morte. Os dois são realmente merecedores dessa homenagem”, disse o jornalista chileno Danilo Diaz, emocionado com a homenagem prestada em momento tão importante para seu país.