O jornalismo fluminense perdeu um de seus nomes mais éticos, sensíveis e apaixonados. Rafael Vargas, de 48 anos, morreu na manhã deste domingo (3), vítima de um infarto fulminante. Carioca da Tijuca e com trajetória marcada por apuração rigorosa, olhar humano e compromisso com a verdade, ele deixa um legado de integridade profissional e de amizades profundas.
Vargas era jornalista e desenhista, mas, principalmente, pai do Pedro e um grande amigo para todas as horas. Na profissão, começou como repórter no histórico Jornal do Brasil. Deu sequência à sua trajetória na Tribuna de Minas, assim como na combativa Revista Caros Amigos.
Sua eficiência jornalística e olhar diferenciado para a comunicação o levou aos meandros políticos do Rio de Janeiro, onde atuou em campanhas eleitorais na cidade.
Todavia, foi no Norte Fluminense que ele solidificou ainda mais sua carreira. Em Campos dos Goytacazes, atuou na tradicional Folha da Manhã e no Portal Ururau, sempre com dedicação exemplar. Ainda na cidade, exerceu funções nas secretarias de Comunicação Social da Prefeitura de Campos, na Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) e na Universidade Estadual do Norte Fluminense.
Atualmente, Rafael Vargas atuava como jornalista na redação da Assessoria de Imprensa da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Divorciado, ele deixa o filho Pedro, de 10 anos, maior amor de sua vida, com quem ele fazia questão de estar nos finais de semana e demais momentos possíveis em Campos dos Goytacazes, fruto da relação com a ex-esposa. Porém, quem esteve por mais tempo ao lado de Rafael foi a cantora e socióloga Simone Pedro, que já está no Rio de Janeiro para o funeral do namorado.
Jornalista e Artista
Além das palavras, dominava os traços. Seu talento como desenhista ganhou espaço na Santa Paciência Casa Criativa. Lá, expôs obras que revelavam o mesmo olhar sensível que guiava sua pena de repórter.
No cinema, participou da pesquisa de pré-produção de “Lixo Extraordinário” (“Waste Land”, 2009), documentário de João Jardim e Lucy Walker, indicado ao Oscar, que retrata a vida de catadores no Aterro de Gramacho.
Mas nenhuma de suas conquistas profissionais supera aquilo que o tornava verdadeiramente grande: a sua humanidade.
Uma pessoa rara
Rafael Vargas se tratava de um homem íntegro, generoso, perfeccionista. Não se dobrava à pressa rasa da atualidade. Sabia que a boa informação exige tempo, escuta, ética — e ele sempre entregava tudo isso com maestria. Tinha uma comunicação refinada, não apenas na linguagem escrita, mas também no jeito de olhar, ouvir e acolher. Sobretudo, no que se referia à compaixão.
A malemolência no jeito de falar seu carioquês, misturava “papo reto” com uma longa divagação filosófica. Acreditava na força da energia — tanto boa como ruim — e procurava sempre meios de ficar “de boa”. Por vezes, meditava, lia bons conteúdos ou buscava na música as mensagens que tocavam sua alma com perfeição. Mesmo assim, dividia suas frustrações com os amigos, tal qual fazia com suas conquistas e momentos felizes.
Uma de suas maiores feridas jamais cicatrizou: a morte precoce do irmão, cuja cicatriz abriu uma ferida funda em sua alma. Uma dor que ele carregou com inconformidade, num longo processo de cicatrização. Chorou nos ombros de muitos amigos, e jamais escondeu sua fragilidade. Porque Vargas era feito de verdade. De uma sinceridade que hoje falta ao mundo, à profissão, à convivência humana.
Pedro, o filho amado, herdeiro de um legado de honestidade e caráter
Profissionalmente, manteve-se sempre de pé, mesmo nos momentos mais desafiadores. Em sua vida, o amor inabalável por seu filho foi seu alicerce e farol que lhe guiava mesmo nas noites mais escuras. A cada menção ao Pedro, seus olhos brilhavam com um orgulho puro, e seu peito se enchia de esperança.
Pedro, cresça sabendo que seu pai te amará para sempre. Que ele te deixa como herança mais importante a honestidade, a sensibilidade e a coragem de quem o amou mais que tudo. Quando você completou cinco anos, ele escreveu essa mensagem:
“Através dos seus olhos, eu vejo o melhor do Mundo. E esse mundo é muito mais feliz porque estamos juntos e sou só Gratidão. Papai te ama muito, com todo o coração”
O funeral, seguido de cremação, acontece realizado nesta segunda-feira (4), a partir das 11h30, no Cemitério e Crematório da Penitência, no bairro do Caju, no Rio de Janeiro.
Meu sentimento pessoal
Rafael, aquele nosso último abraço… nunca pensei que fosse o último. E talvez não tenha sido. Porque há abraços que ficam, que se eternizam. Você me ensinou que, mesmo com o mundo em alta velocidade, ainda é possível caminhar com profundidade. Pena que a morte foi rápida demais — e passou na contramão da vida.
Você merecia aplausos em vida. Que agora venham as homenagens, ainda que tardias. Que falem alto, para que seu filho ouça, e para que o mundo saiba o homem imenso que partiu.
E às pessoas pequenas de alma e de sensibilidade, restará o silêncio. Porque tostões — e até milhões — não curam arrependimentos, culpas e mesquinharias.
Dedicado a Rafael Vargas (1977–2025)
Pai, jornalista, artista, amigo.
Seu nome permanecerá escrito onde importa: na memória de quem teve o privilégio de te amar.