Coluna Luta Animal - Patrícia NunesColunistas

Luto Animal: Quando o Pet Vai Embora

Foram oito anos de uma convivência única. Desde o dia em que resgatei a Bella, criamos uma ligação que ultrapassava o comum entre humano e animal. Costumo dizer que ela só gostava de mim neste mundo. Não por ser agressiva ou arredia, mas porque, para ela, o resto simplesmente não importava.

Bastavam cinco minutos de ausência para que minha volta fosse motivo de festa. Bella permanecia ao meu lado dia e noite, fosse qual fosse a situação. Trocávamos olhares que dispensavam palavras. O afeto era incondicional.

Tudo isso terminou naquela noite. Há duas semanas, encontrei Bella ferida, vítima de uma mordida de outra cadela. Por mais que eu tentasse socorrê-la, ela não resistiu. Desde então, o vazio se instalou. Nosso amor seguiu para outra dimensão, mas ela seguirá comigo. Foi o fim de uma vida, não de uma relação.

A Dor Silenciosa de Perder um Animal

Muitas pessoas desenvolvem laços emocionais profundos com seus animais de estimação. Por isso, a perda de um pet pode ser tão devastadora quanto a morte de um familiar. O luto animal é real, intenso e muitas vezes silencioso.

Quando um animal de estimação parte, nossa rotina é abruptamente alterada. De repente, não há mais a necessidade de levantar cedo para alimentar, nem o passeio obrigatório no final do dia. Ficam os espaços vazios, os horários ociosos, o silêncio que antes era preenchido com passos, latidos, miados e carinhos.

Além de companhia, eles nos oferecem estrutura emocional. São alívio para a ansiedade, para o estresse e para a solidão. Perder um pet é perder uma fonte diária de afeto, de segurança e de bem-estar.

Um Luto Invisível para Muitos

O luto por um animal, porém, carrega um agravante social: ele é frequentemente invalidado. Enquanto o luto por um ente humano é compreendido, respeitado e acompanhado de rituais, o sofrimento pela morte de um animal costuma ser ignorado ou até ridicularizado.

Luto Animal: Quando o Pet Vai Embora | Arquivo Pessoal/Patrícia Nunes

Frases como “Era só um cachorro”, “Arranja outro” ou “Exagero seu” são comuns e dolorosas. Esse tipo de comentário não só desrespeita o sentimento de quem sofre, como também reforça a ideia de que essa dor é menor ou desnecessária.

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Muitas vezes, por vergonha ou medo de julgamento, os tutores reprimem suas emoções e não buscam ajuda. Isso só prolonga e aprofunda o sofrimento.

As Fases do Luto Animal

Negação, raiva, depressão e aceitação. Essas são algumas das fases do luto que, segundo especialistas, também se aplicam à perda de um pet.

A psicanalista Andrea Ladislau explica que o sofrimento pela morte de um animal é legítimo e natural. Segundo ela, a literatura médica ainda restringe o conceito de luto às perdas humanas, mas os sentimentos vividos por quem perde um animal são, muitas vezes, tão intensos quanto aqueles relacionados à perda de uma pessoa querida.

“Sabemos que a literatura médica classifica o luto relacionando-o somente à morte de um humano, no entanto, um processo semelhante também ocorre quando perdemos algo muito próximo e querido. O sofrimento é real. A dor e o processo de luto por causa de um animal podem ser exatamente iguais aos sentimentos vividos quando uma pessoa morre”, afirma a psicanalista.

A Importância de Validar o Luto

Aceitar a dor, falar sobre ela, permitir-se sentir e buscar apoio emocional são passos fundamentais para atravessar esse momento.

O luto animal precisa ser reconhecido como legítimo. Porque, no fim das contas, o amor que sentimos por eles é real, profundo e para sempre.

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