Prefeitos do interior e deputados querem Rodrigo Bacellar candidato a governador do Rio de Janeiro
Prefeitos de importantes cidades do interior do Rio de Janeiro das mais diversas siglas partidárias vêm se empenhando numa missão que parece estar dando resultado: convencer o deputado Rodrigo Bacellar (União), presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), de representar esse grupo político como candidato a governador do Rio de Janeiro, em 2026.
Ao que parece, o empenho está surtindo efeito. Pelo menos é o que podemos concluir considerando a entrevista dada por Rodrigo Bacellar à CNN nesta segunda-feira (29).
“Conversei e atendi muitos prefeitos. Aí, clamou-se de que realmente a gente possa estar colocando o nome à prova, mas ainda é um trabalho embrionário”, disse, ressabiado.
Esse trabalho de convencimento não fica restrito somente aos prefeitos. Do mais humilde cidadão que cruza com Bacellar aos jornalistas, a pergunta que mais persiste versa sobre a sucessão estadual.

Carla Machado discursa defendendo a candidatura de Rodrigo Bacellar | Divulgação/Governo do Rio de Janeiro
A ele, não falta sequer legenda, pois ele preside o União Brasil no estado do Rio de Janeiro. Sequer faltariam recursos do fundo eleitoral. O próprio diretório nacional da legenda, não vai abrir mão fácil do estado com o segundo maior PIB do país. Além disso, pensando nas eleições municipais, repleto de prefeituras com orçamentos elevadíssimos. Isso pesa ainda mais porque a sigla não deve ter candidato à presidência da República.

Antônio Rueda, presidente Nacional do União Brasil, e Rodrigo Bacellar, com lideranças nacionais ao fundo | Reprodução
Deputados também querem candidatura de Bacellar
Há, ainda, os deputados estaduais parceiros de primeira hora, tal qual aqueles que se tornaram amigos ao longo do tempo. E até mesmo aqueles de esquerda que, por questões ideológicas, podem não apoiá-lo abertamente, mas que preferem a existência da sua candidatura. Afinal, já tem relação política com ele, pautada na confiança, diálogo, palavra e olho no olho.

Deputados estaduais Alan Lira, Rodrigo Amorim e Poubel (todos do PL), autodenominados da tropa de choque de Rodrigo Bacellar | Reprodução
Além disso, o presidente da Alerj se tornou uma personalidade da sociedade fluminense por conta da facilidade de trânsito com diversas entidades civis ao longo de seu mandato. Goza da simpatia de membros da magistratura do estado, da grande maioria dos representantes do Ministério Público e transita bem em várias entidades de natureza social e comunitária.
“Se for uma composição de grupo e o meu nome for escolhido, a gente está aí à prova para colocar o trabalho na rua e em frente”, disse Bacellar, dando sinais de que cederá à forte pressão.

Rodrigo Bacellar, no exercício do cargo de governador, abraçado à deputada Carla Machado (PT), ex-prefeita de São João da Barra, juntamente com os deputados Thiago Rangel (Avante), Vitor Junior (PDT) durante evento em Campos | Governo do Rio/Divulgação
Um nome da direita que viveu na esquerda
Apesar de seu alinhamento político mais à direita, em momento algum esquece das lições que aprendeu com seu pai, Marcos Bacellar. Um político experiente, que além de ter presidido por alguns mandatos a Câmara de Campos.

Rodrigo Bacellar, ao lado do pai e mentor político, o ex-presidente da Câmara Municipal de Campos, Marcos Bacellar, e também do governador Claudio Castro no dia que inaugurou a Ponte da Integração e disse que Rodrigo seria seu sucessor | Philippe Lima/Governo do Rio/Divulgação
Mas seu pai também esteve por por 24 anos na presidência do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Energia Elétrica do Norte e Noroeste Fluminense. Logo, soaria irracional não compreender Rodrigo Bacellar como um político que viveu de perto as lutas de classe e compreende os movimentos mais à esquerda.
Estado do Rio versus Guanabara
Agora, em 2025, completamos 50 anos da fusão do antigo estado do Rio de Janeiro com o perdido estado da Guanabara.
Peças postas no tabuleiro, Bacellar teria a seu favor hoje essa coalizão de prefeitos do antigo estado do Rio. Enfrentaria desafios no antigo estado da Guanabara. Entretanto, num território que ele tem discurso para vender: pacote de enfrentamento ao crime.
Mas seus possíveis adversários? Conseguiriam penetrar no antigo estado do Rio? De que forma e com qual proposta? Esses pontos dão a Bacellar um desafio em nome da coletividade, desenhado à sua feição. Justamente nesse sentido, ele respondeu à CNN.
“Se prosperar o meu nome vai ser uma escolha de grupo, jamais uma vontade pessoal, eu sou presidente da Assembleia”, afirmou.
Tropa a espera de um líder
O vou não vou se Rodrigo Bacellar se assemelha a uma cavalaria esperando seu legendário líder para partir rumo ao combate.
Seu cavalo está selado, é só montar.
Mas, para isso, o receio da queda tem fundamento em uma série de ressalvas e desacordos recentes. Até mesmo, na relação com o próprio governador Cláudio Castro, com arranhões ainda não cicatrizados. Primeiro, porque quem lançou Bacellar foi Castro. Depois, voltou atrás a mando do Senador Flávio Bolsonaro.
“Eu e o Flávio (Bolsonaro) conversamos muito e ficou decidido que o nosso partido, o PL, não irá apoiar qualquer um de outros partidos. Até saiu essa semana uma normativa sobre isso e, como partidário, estou seguindo a orientação da minha liderança”, disse Castro, em agosto.
Há, ainda, rumores de que Castro estaria preparando um veto para a volta da gratificação que a Alerj aprovou por ampla maioria para policiais civis por eficiência em confronto com criminosos.
Em outras palavras, o projeto que retoma a “gratificação faroeste“. Nada mais do pagamento pelos “autos de resistência“. Por outro lado, na boca do povo, situações conhecidas como CPFs cancelados.
Juridicamente, no entanto, tratam-se de casos de exclusão de ilicitude dos agentes policiais em serviço em confronto contra criminosos armados. Bacellar diz que, o governador tem o direito de vetar, mas que a última palavra é da Alerj.
“Eu tenho certeza que da forma que foi votada e pela esmagadora maioria, uma vez vetada esse veto será ultrapassado pela Assembleia Legislativa, porque realmente é um anseio da população”, disparou.
Entre a realização pessoal e o sacrifício público
Fontes muito próximas ao presidente da Alerj não dão o assunto sucessão estadual como encerrado. Porém, não escondem o real desejo de Rodrigo Bacellar: ocupar uma cadeira no Tribunal de Contas fluminense.
Ele até esteve muito perto de fazer isso, mas acabou caindo no conto dos Reis Magos. Diante disso, ele articulou, em consenso não só com o grupo da base governista, mas também com todos os espectros políticos da Alerj.
Vale lembrar que Rodrigo Bacellar se reelegeu com uma votação inédita, histórica: 100% dos votos. Mas a cadeira que ele tanto desejava fez parte de um acordo político que conduziu o ex-vice-governador Thiago Pampolha para o TCE-RJ.
Em tese, isso bastaria para pacificar a questão da sucessão de 2026 com a família dos Reis Magos da Baixada e colocar em ação o plano traçado para a sucessão de Cláudio Castro. Entretanto, em menos de dois meses, o dito ficou desdito, com um leve aceno de que o maior dos Reis poderia recuperar seus direitos políticos por uma via muito conhecida, chamada recurso de pasta, despachado à moda antiga, conhecida como mão na porta.
Com o feito consumado, e Pampolha vitalício no TCE/RJ, o parlamento estadual se viu traído e começou trocar chumbo à altura.
Recordar é viver
Faz-se necessário voltar no tempo e ponderar sobre esses fatos porque tudo o que ocorreu depois gerou muito desgaste, principalmente com algumas alas do partido do governador Cláudio Castro que, começaram a criar ambientes de intriga, linha cruzada e fofocas.
Já havia uma turma que, desde sempre, se mostrou resistente ao projeto e trabalhava nas sobras pela sua sabotagem. Inclusive, buscando aproximação com inimigos da família Bacellar em Campos dos Goytacazes.
Dando nome aos cordeiros, o ex-governador e suplente de vereador no Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. Pai do prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, que sonha em ser uma via alternativa da direita na disputa pelo governo do estado, a princípio como vice de alguém.
Cartolas estão sem coelhos
Porém, de onde sairá esse “alguém” à essa altura do jogo? Basta observar, por exemplo, o contexto nacional, onde a direita está desorientada, pois o Centrão está querendo virar a página da história e seguir em frente. Contudo, ainda resiste, pois precisa de uma definição do PL, que precisa de uma definição de não só de Bolsonaro, mas da desistência de um projeto de candidatura que tenha qualquer Bolsonaro na cabeça de chapa.
Então, eis que os prefeitos do interior do estado conseguem fazer uma leitura política muito mais sapiente do que quem está em Brasília. E se apressam no sentido de promover encontros e reuniões levando Rodrigo Bacellar às suas bases.
Na dianteira desse movimento de articulação dos prefeitos do interior há lideranças que sequer pertencem ao PL, embora parte considerável esteja na legenda. O Prefeito de Búzios, Alexandre Martins — do Republicanos — afirmou em recente reunião que Rodrigo Bacellar tem o apoio de todos os prefeitos do interior, passando por Welberth Rezende, de Macaé, e Fabinho, ambos do Cidadania; e Maira Figueiredo (MDB), de Silva Jardim.
Alexandre Martins ainda defende que todos comecem a se posicionar, já em clima de pré-campanha, declarando apoio a Bacellar, não só para dar musculatura à candidatura mas também para demonstrar ao presidente da Alerj e ao governador Cláudio Castro que esse é o caminho político mais natural e mais viável. O mesmo caminho é defendido por Dr. Serginho (PL), prefeito de Cabo Frio.
Há diversas questões que já poderiam começar a ser exploradas, como os vetos do governador derrubados pelo parlamento — fato comum na gestão de Rodrigo Bacellar.
Há, ainda, uma série de ações institucionais em diversas áreas realizadas pelo Poder Legislativo que podem penetrar ainda mais no interior. A mais recente iniciativa, do próprio Bacellar: o pacote de enfrentamento ao crime, recentemente aprovado no parlamento.
Dudu assume que é
Até então, o principal adversário seria Eduardo Paes, prefeito do Rio. Mas nunca é demais lembrar que ele já perdeu duas eleições. Na primeira, em 2006, até podemos considerá-lo café com leite. Mas a segunda, em 2018…
O favoritismo era totalmente dele. Apesar do pleito ter outros nomes de peso, como Romário — cuja candidatura desidratou devido ao mau desempenho em debates — tal qual Garotinho — impugnado. Só com esses dois fatores, como poderia Eduardo Paes perder aquela eleição “tão ganha”?
A resposta é retumbante: interior. Perdeu para a dupla Juiz Witzel e Cláudio Castro, este último até agora no poder após a cassação de Witzel, em 2020. Dos 92 municípios do estado do Rio de Janeiro, Paes só venceu em três: Rio de Janeiro, Niterói e Rio Claro. Dessa vez, ficaria complicado até vencer em Rio Claro, onde o prefeito Babton Biondi pertence aos quadros do PP, em processo de fusão com o União Brasil.
Favorito de novo?
Todavia, isso não tira de Paes o favoritismo. Não somente pelo fato de se tratar do governante da capital, mas por seus próprios méritos. As melhorias que a cidade do Rio de Janeiro teve em seus governos falam por si. Ao menos, nas regiões em instagramáveis da cidade — que antigamente chamávamos de cartões-postais.
Aliás, ele inaugurou o “turismo de favela” no Rio de Janeiro. Se não conseguiu avançar na questão da ocupação irregular de territórios nos dois primeiros governos — falhando drasticamente no último — agora dá demonstrações de ao menos tentar fazer.
Tem bom diálogo com os setores culturais e esportivos da cidade, mas tudo muito restrito ao Rio capital. Falta a Paes ser um pouco mais fluminense.
Tá certo, ele até então dizia não ser candidato. Agora, assumiu para alguns, em uma reunião íntima. Menos mal.
Num ponto, ele acertou: em dizer que o Rio precisa de salvação. É bem óbvio. E o eleitor, a essa altura, precisa começar a olhar para a construção do projeto político.