Facção criminosa Comando Vermelho causa nova eleição para prefeito em cidade brasileira

Após facção criminosa Comando Vermelho dar causa a uma nova eleição prefeito da cidade , eleitores de Santa Quitéria voltam as urnas neste domingo | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Da Redação, André Freitas, diretor-executivo e repórter do Folha do Leste (26/10/2025, às 13h32) — Os eleitores de Santa Quitéria — maior município do Ceará em extensão territorial — voltam às urnas neste domingo (26) para realização de uma nova eleição para prefeito, tendo como causa a interferência da facção criminosa Comando Vermelho (CV) no pleito de 2024. Três candidatos disputam a preferência do eleitorado, após 33 dias de campanha eleitoral.
A Justiça Eleitoral determinou a realização de eleição suplementar após a cassação do prefeito reeleito em 2024, José Braga Barroso, o Braguinha (PSB), e de seu vice, Gardel Padeiro (PSB). A decisão se deu por abuso de poder político e econômico, bem como por suspeita de envolvimento com a organização criminosa.

Braguinha e Gardel Padeiro, na ocasião da diplomação como prefeito e vice-prefeito de Santa Quitéria, antes da cassação de seus mandatos pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará | Reprodução
A cidade, localizada no Sertão de Crateús e com pouco mais de 41 mil habitantes, possui 33 mil eleitores aptos a votar.
O Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) organizou uma operação especial de segurança, ao passo que mobilizou mais de 200 policiais militares, 40 policiais civis, além de equipes do Exército, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O esquema busca, acima de tudo, garantir tranquilidade durante o pleito, o único a ocorrer em todo o país neste domingo.
Três candidatos disputam o comando do município

Lígia Protásio, Joel Barrozo e Cândida Figueiredo: um deles vai governar Santa Quitéria nos próximos três anos | Reprodução
- Lígia Protásio (PT) – ex-vice-prefeita de Braguinha no primeiro mandato e que também assumiu o cargo interinamente em 2024, após o afastamento do gestor.
- Joel Barrozo (PSB) – atual prefeito interino, presidente da Câmara Municipal e filho do ex-prefeito cassado.
- Cândida Figueiredo (União Brasil) – ex-deputada estadual e esposa do ex-prefeito Tomás Figueiredo, adversário político de Braguinha.
Diferentemente da eleição anterior, não houve denúncias de ameaças ligadas à facção criminosa. Segundo moradores, o tema da violência política ficou praticamente silenciado durante o período eleitoral.
Facção ordenou ações diretas nas eleições de 2024
O escândalo que levou à cassação de Braguinha teve início durante as eleições municipais de 2024. O Ministério Público Eleitoral (MPE) acusou o então prefeito de favorecimento por integrantes do CV. Em suma, a acusação diz que eles teriam atuado na compra de votos. Principalmente, distribuindo drogas em troca de apoio eleitoral. De igual forma, teriam intimidando opositores.
As investigações apontam que as ações foram coordenadas a partir do Rio de Janeiro por Anastácio Paiva Pereira, conhecido como Doze, apontado como líder do Comando Vermelho no sertão central do Ceará e natural de Santa Quitéria. Sob suas ordens, mensagens e pichações em muros ameaçavam eleitores ligados ao grupo de Tomás Figueiredo (MDB), principal adversário de Braguinha.
O Ministério Público Eleitoral ajuizou ações ainda no fim de 2024, acusando a chapa do PSB de ter se beneficiado de abuso de poder político e econômico. Em maio de 2025, a Justiça Eleitoral decidiu pela cassação definitiva do prefeito e do vice. O TRE-CE confirmou a sentença em julho, determinando a nova eleição para este domingo, 26 de outubro.
Prisão antes da posse
Braguinha chegou a ser preso em 1º de janeiro de 2025, poucas horas antes de tomar posse para o segundo mandato. Ele sempre negou todas as acusações e alegou perseguição política. Apesar disso, o conjunto de provas apresentado pela Promotoria e validado pela Justiça anulou o resultado das urnas apurado em 2024.
Segurança máxima e expectativa
Cerca de 600 mesários trabalham nos 52 locais de votação do município. A cidade vive clima na cidade de expectativa, mas também de cautela. Moradores relatam receio, contudo esperam que a nova eleição simbolize o fim da interferência criminosa nas decisões políticas locais.
Santa Quitéria tem 4.200 km² de área territorial, o que a torna 3,5 vezes maior que o município do Rio de Janeiro. Essa extensão territorial, bem como as dificuldades de acesso, tornam a logística eleitoral um desafio adicional para a Justiça.




























